Pode haver passeios domingueiros mais calmos e relaxantes, mas poucos seriam mais agradáveis para Sebastian Vettel que o que hoje fez nas ruas do Mónaco! Levou os "tifosi" à loucura dando à Ferrari uma vitória no G.P. do Mónaco – coisa que a Scuderia já não conhecia desde… 2001! – aumentou a sua vantagem no Mundial para 25 pontos sobre Hamilton e, pela dupla que obteve com Raikkonen, colocou a equipa italiana na liderança do Mundial de Construtores, com 17 pontos de vantagem sobre a Mercedes!
Mas como não há "passeios" perfeitos, a estratégia adoptada pela Ferrari deixou um amargo de boca em Raikkonen que liderou o início da prova e foi passado por Vettel nas trocas de pneus. A cara do finlandês e o cumprimento gélido ao alemão disseram tudo… Este, por seu turno, já comemorara via rádio, depois de cortar a meta:
"Obrigado rapazes, o carro esteve fantástico, aquelas duas voltas com os pneus já usados em que dei tudo valeram esta vitória!". Porque foi aí, de facto, que Vettel bateu Raikkonen.
O alemão colocou-se hoje na posição de principal favorito ao título mundial deste ano. Porque terminou todas as corridas até agora disputadas em 1.º ou 2.º. e porque o Ferrari SF70H é de uma consistência impressionante, competitivo em qualquer tipo de pistas, face à "volatilidade" do Mercedes W08 que se mostra muito inconstante.
"Ainda é cedo para pensar nisso, vou começar a fazer contas lá para Agosto", tenta arrefecer Vettel o entusiasmo dos ferraristas…
Com um arranque exemplar, Raikkonen manteve a liderança e não deu quaisquer esperanças a Vettel, mais preocupado a defender-se do ataque de Bottas. Os dois Red Bull chegaram a tocar rodas e Hamilton ganhou o lugar a Vandoorne, numa partida surpreendentemente pacífica, no primeiro ano de carro bastante mais largos em pista tão estreita… O ritmo a que os Ferrari fugiram nas duas primeiras voltas foi elucidativo do que iria ser a corrida, mas ver o finlandês a escapar-se rapidamente ao colega de equipa não deixou de ser surpreendente, construindo uma liderança de 2,3 s.
Vettel estava, contudo, numa posição expectante, deixando as decisões mais para a frente, seguindo apenas o que Raikkonen iria fazer e vendo-o desgastar os seus pneus. Até que começou a cortar a sua desvantagem, o ritmo do finlandês começou a desvanecer, fazendo até com que Bottas, que estava num longínquo 3.º posto, começasse a recuperar terreno, arrastando consigo os dois Red Bull. A entrada das "dobragens" em cena acabaram por juntar mais os homens da frente, o que fazia com que os "pit stops" ganhassem uma importância que, de início, com as grandes diferenças estabelecidas, pareciam não ter… A estratégia, em termos do "timing" das chamadas à "box" voltaria a ser decisiva?
A Red Bull começaria o jogo chamando Verstappen, com a Mercedes a responder para defender a posição de Bottas e a Ferrari a chamar Raikkonen que estava claramente mais lento que Vettel. Moral da história: quem ficou em pista (Vettel e Ricciardo) foram os grandes vencedores desta "dança das boxes" porque os ultramacios ainda estavam em muito bom estado e conseguiram, com pista livre, fazer voltas muito rápidas, ganhando segundos sobre segundos aos que já tinham parado. Resultado: Vettel passou Raikkonen e assumiu a liderança, numa forma "diplomática" da Ferrari colocar o alemão no comando, mas também justa por estar a ser o mais rápido; e Ricciardo saltou dois lugares, deixando Verstappen furioso a praguejar com a sua equipa!
Ficar em pista o máximo de tempo possível, graças à resistência dos pneus ultramacios (dizia-se até que aguentariam toda a corrida se fosse preciso… e possível!), mostrou-se ser a decisão mais acertada: a melhor prova foi com Lewis Hamilton que só parou ao fim de 47 voltas e, com isso, garantiu um magnífico 7.º lugar, para quem largara de 13.º…
Na frente, Vettel tinha a corrida na mão e as posições estavam mais ou menos entregues, excepto uma "cavalgada" de Ricciardo em direcção ao 2.º lugar de Raikkonen que estava manifestamente mais lento. Até à entrada do "safety car", devido à manobra desastrada com que Button se despediu da F1, atirando o Sauber de Wehrlein contra o "rail"… com o piloto "entalado"! O alemão não sofreu nada mas não deixamos de pensar na sua lesão nas costas que lhe comprometeu o início da época…
"Voltei a bater com a cabeça nas barreiras e vou ter de fazer um novo ‘scan’ na próxima semana", revelou Wehrlein.
O pelotão voltou a juntar-se, embora isso não tenha colocado problemas a Vettel que tinha tudo sob controlo e voltou a ir-se embora. Mas também Raikkonen não deu hipóteses a Ricciardo, enquanto Verstappen bem tentou pressionar Bottas sem nada conseguir. O mesmo se passou com Hamilton que bem pressionou durante nove voltas Sainz mas… Mónaco é Mónaco. Como, aliás, Perez percebeu ao atirar-se para um "buraco" que parecia que Kvyat tinha aberto para colidirem e acabarem os dois fora dos pontos, o que acabou uma série de 15 de provas consecutivas a pontuar para o mexicano.
Vettel vencia pela segunda vez no Mónaco (45.º triunfo) e, depois de perceber verdadeiramente o que é um "Ice Man", pela frieza com que Raikkonen mal o felicitou, contou:
"Foi uma corrida muito intensa! Esperava fazer uma boa partida, mas o Kimi arrancou melhor e não sabia bem por onde ir, tive de ser paciente. O plano era tentar fugir do Valtteri mas, a certa altura, os pneus começaram a escorregar muito e ele a aproximar-se. Felizmente que tive uma segunda oportunidade e, quando tive pista livres, consegui forçar, fazer boas voltas, o que deu para chegar ao comando. O recomeço da corrida foi difícil mas, no final, foi um fim-de-semana fantástico!".
Kimi Raikkonen não estava, visivelmente, de acordo com o seu colega de equipa… O semblante era o de sempre, mas sentia-se o seu desagrado, mesmo se até tinha sido ele a perguntar à equipa se não estaria na altura de trocar de pneus… A verdade é que o finlandês só nas primeiras voltas se mostrou mais rápido que Vettel, mas não conseguiu esconder o desagrado: "Não tenho muito a dizer, é um segundo lugar mas não é muito bom, às vezes acontece… Gostava que tivesse sido melhor".
Já Daniel Ricciardo estava muitíssimo mais feliz com este 3.º lugar do que, há um ano, com um 2.º que fora uma enorme derrota… Em especial depois de uma qualificação que o deixara frustrado por um erro estratégico da equipa o ter colocado em pista no meio de outros carros…
"Hoje estou mais contente, achei que na qualificação tínhamos mais para dar e foi uma pena não podermos mostrá-lo", disse o australiano.
"Na corrida, quando tive pista livre, pude fazer bons tempos e conseguir ganhar posições". Que ia… perdendo quando o "safety car" saiu de pista e chegou a tocar no "rail" da primeira curva!
"O recomeço não foi nada bom, estes pneus após o ‘safety car’ é como guiar no gelo! Não sabia se tinha estragado alguma coisa e o Valtteri já me atacava por dentro. Não foi agradável, mas lá agarrei o 3.º posto".
Para a Mercedes foi um fim-de-semana terrível, em que a equipa nunca conseguiu colocar os dois carros a funcionar de forma competitiva. Singapura-2015 e Espanha-2016 (pelos motivos conhecidos…) foram as últimas provas sem Mercedes no pódio e, apesar de o W08 ser um carro rápido, não tem a facilidade do Ferrari de ser muito competitivo em qualquer pista! "Temos muito que analisar, mas este carro é uma espécie de ‘diva’, muito sensível com as temperaturas dos pneus", opinou Toto Wolff. "O Ferrari chega a qualquer pista e é rápido, enquanto nós temos de trabalhar muito mais para adaptarmos o nosso carro até o tornar competitivo. E o mais estranho é que, usando as mesmas afinações, temos assistido a que um dos carros é rápido e o outro não…".
Hoje, Bottas não conseguiu seguir os Ferrari e viu-se aflito para se defender de Verstappen. Mas Hamilton até conseguiu fazer bons tempos na fase em que esteve a rodar sozinho, ganhando aí o tempo que lhe deu depois o 7.º lugar que limitou, dentro do possível, os danos em termos de Mundial.
"Antes da corrida, falei com o nosso estratega e o melhor que conseguíamos era um 10.º lugar... Mas parti com mentalidade positiva e forcei ao máximo quando pude, pelo que este resultado me deixa feliz", referiu Hamilton.
"Hoje cheguei aqui a sentir-me destroçado, mas consegui recompor-me e, com a pista livre, até me consegui divertir, apesar de o carro continuar muito difícil de guiar…".
Apesar disso, Hamilton não conseguiu bater um Carlos Sainz, cuja "performance" ao volante do Toro Rosso deve ser destacada, com um brilhante 6.º lugar! Uma palavra ainda para a Haas que, além das "três grandes" foi a única equipa a pontuar com os dois carros. Classificação:
Pos | Piloto | Equipa | Tempo/Dif. | Box |
1 |
Sebastian Vettel |
Ferrari |
1.44.44,340 h |
1 |
2 |
Kimi Räikkönen |
Ferrari |
a 3,145 s |
1 |
3 |
Daniel Ricciardo |
Red Bull |
a 3,745 s |
1 |
4 |
Valtteri Bottas |
Mercedes |
a 5,517 s |
1 |
5 |
Max Verstappen |
Red Bull |
a 6,199 s |
2 |
6 |
Carlos Sainz |
Toro Rosso |
a 12,038 s |
1 |
7 |
Lewis Hamilton |
Mercedes |
a 15,801 s |
1 |
8 |
Romain Grosjean |
Haas |
a 18,150 s |
1 |
9 |
Felipe Massa |
Williams |
a 19,445 s |
2 |
10 |
Kevin Magnussen |
Haas |
a 21,443 s |
2 |
11 |
Jolyon Palmer |
Renault |
a 22,737 s |
1 |
12 |
Esteban Ocon |
Force India |
a 23,725 s |
3 |
13 |
Sergio Pérez |
Force India |
a 39,089 s |
3 |
14 |
Daniil Kvyat |
Toro Rosso |
a 7 laps (colisão) |
1 |
15 |
Lance Stroll |
Williams |
a 7 laps (prob. mecânico) |
3 |
— |
Stoffel Vandoorne |
McLaren |
Despiste |
1 |
— |
Marcus Ericsson |
Sauber |
Despiste |
1 |
— |
Pascal Wehrlein |
Sauber |
Colisão |
2 |
— |
Jenson Button |
McLaren |
Colisão |
1 |
— |
Nico Hülkenberg |
Renault |
Cx. velocidades |
0 |
O Mundial de F1 tem agora um… "soluço" na sua fase europeia para ir só ali ao Canadá e voltar logo a seguir. A corrida no circuito de Gilles Villenevue, em Montreal, disputa-se dentro de duas semanas, a 11 de Junho.