Depois de dois anos de visitas e negociações, a Ford Motor Company assinou - neste mesmo dia em 1929 - um acordo inédito onde se comprometia a produzir automóveis para a União Soviética (URSS) governada por Estaline.
Em 1928 a URSS apenas contava com uma pequena fábrica de automóveis e no país só circulavam cerca de 20 mil veículos. Para os comunistas, garantir a "ajuda" da Ford, o gigante dos automóveis na época, era um passo inteligente. Por outro lado, face às divergências políticas (capitalismo vs comunismo), era um acordo que não se adivinhava fácil. Contudo, foi precisamente a base capitalista dos Estados Unidos - sempre atenta a um bom negócio - que permitiu este acordo.
Assinado em Dearborn, no Estado do Michigan, a 31 de Maio de 1929, o contrato tinha estipulado que a Ford iria controlar de perto a construção de uma linha de produção situada em Nizhni Novgorod (a quinta maior cidade da actual Rússia) para produzir os "Model A" bem como a de uma fábrica de montagem em Moscovo. Em contrapartida, a URSS concordou em comprar 72 mil carros Ford desmontados, assim como todas as peças necessárias para a sua construção durante nove anos, num negócio de 30 milhões de dólares...
De forma a respeitar a sua parte do acordo, os americanos enviaram engenheiros e executivos para a União Soviética, sendo que alguns acabariam por ficar na União Soviética depois do acordo terminar e outros acabaram nos gulags (campos de concentração) de Estaline.
Nessa época o governo dos Estados Unidos não reconhecia oficialmente a URSS e o acordo assinado pela Ford foi inovador, abrindo caminho a negócios similares, estabelecidos pouco tempo depois. Foram assinados 15 contratos entre a URSS e empresas estrangeiras, entre as quais as americanas E.I Du Pont (fábrica de químicos e pólvora) e a RCA, que levou à instalação de sistemas de transmissão de rádio e TV na União Soviética...
Henry Ford, fundador da Ford Motor Company, acreditava que introduzir o capitalismo na União Soviética era a melhor forma de enfraquecer o comunismo, tal como confirma Douglas Brinkley em "Wheels for the World", um livro sobre Henry Ford e a história da marca. Ainda assim, foi precisamente esta capacidade de produzir veículos que ajudou a URSS a vencer a "Frente Este" e derrotar a Alemanha na II Guerra Mundial, tornando-se na Grande Potência Mundial que, entre 1945 e 1991, fez frente aos Estados Unidos na chamada "Guerra Fria", algo que nem o visionário Henry Ford fora capaz de imaginar.