É uma história de "atrevimento" e "tiro no escuro" que já leva 15 anos de grande sucesso, talvez até maior do que a Porsche esperaria quando arriscou chocar os seus próprios fãs ao lançar um SUV. Porque, em 2002, quando se aventurou num segmento que nada tinha a ver com o seu ADN, sabia-se que os SUV estavam a ganhar popularidade, mas não se sabia ainda que… iriam tomar conta da paisagem automóvel!
Foi, pois, uma cartada de alto risco a que a Porsche então jogou mas que lhe valeria… um "jackpot"! O Cayenne tornou-se no seu modelo mais vendido, totalizando já 770 mil unidades – 270 mil da 1.ª geração, 500 mil da 2.ª – e só foi batido com o lançamento… do segundo SUV, o Macan. A marca de Zuffenhausen renovou profundamente o seu SUV maior, estando já a vender em Portugal a terceira geração do Cayenne. Pudemos experimentar, por estradas nortenhas, bordejando o Douro, o Cayenne S, a versão mais procurada neste início de comercialização.
DESIGN. À primeira vista, até parece que o Cayenne se tornou mais pequeno, mais compacto, mas essa foi uma ilusão bem conseguida pelo departamento de "design", com a contribuição da redução da altura em meros 9 mm. Porque esta 3.ª geração até é maior, com mais 6,3 cm em comprimento e 2,3 cm em largura – 4,92 m de comprimento, 1,98 m de largura, 1,69 m de altura –, mas consegue ter um ar muito mais dinâmico. As rodas aumentaram de dimensão o que também ajuda a essa sensação visual.
A frente está mais agressiva (quase diríamos com mais genes 911…), com as ópticas em que se distinguem os LED’s de quatro pontos, e as entradas de ar de maiores dimensões, não só pela estética mas por maiores necessidades de refrigeração dos novos motores. A lateral mantém a tradicional linha tensa típica da Porsche, mas agora com o pilar C mais inclinado, enquanto a traseira foi profundamente renovada, não só com ópticas mais finais e semelhantes às do Macan, mas também com uma faixa luminosa a uni-las, dando um efeito tridimensional inconfundível.
HABITÁCULO. O interior do Cayenne sofreu uma evolução na linha do do Panamera, isto é, uma simplificação da consola geral em que desapareceram muitos dos botões que podiam tornar a sua utilização um pouco confusa. Várias das funções passaram a ser controladas pelo grande ecrã táctil de 12,3 polegadas e a instrumentação passou a estar integrada no Porsche Advanced Cockpit. Também a nível de conectividade, o Cayenne quer estar no topo, propondo-se como um "hotspot" para ter vários dispositivos online graças ao Porsche Connect Plus, sendo compatível com o Apple CarPlay.
Espaçoso e com interiores tratados com elevado requinte, permite encontrar uma boa posição de condução embora, claro, sempre naquele registo elevado, como é típico (e apreciado) nos SUV. Mantendo os 2,895 m de distância entre eixos, o Cayenne tem um banco traseiro desafogado e com ar condicionado com regulação separada de temperatura para dois dos lugares posteriores. Por fim, graças ao aumento de comprimento da carroçaria, a mala ganhou 100 litros em volumetria, passando agora a ter generosos 770 litros que podem atingir 1710 litros com o rebatimento das costas dos bancos traseiros, na proporção 40:20:40.
MOTOR. Seguindo a política de "downsizing" aplicada a todos os motores até agora conhecidos da terceira geração do Cayenne, a versão S continua a contar com um V6 mas, a capacidade baixou de 3,6 litros para 2,9, ganhando sobrealimentação por dois turbocompressores. Trata-se, na verdade, de um motor totalmente novo que não só debita uma elevada potência (440 cv) como fornece um binário de 550 Nm logo a partir das 1480 rpm e num extenso patamar de regime, tornando-o de utilização muito agradável, sempre com força disponível para acelerações mais fortes em qualquer momento.
Está acoplado à nova caixa automática Tiptronic S de 8 velocidades que consegue trocar as mudanças ainda mais depressa e de forma quase imperceptível, tal a suavidade. A transmissão da potência é feita às quatro rodas, graças ao sistema de tracção integral activo Hang-on.
AO VOLANTE. Quando apresentaram a terceira geração do Cayenne, os responsáveis da Porsche disseram que nunca tinham conseguido introduzir tantos elementos do 911 no seu SUV grande e isso nota-se desde os primeiros metros de uma estrada sinuosa. O Cayenne tornou-se muito mais ágil e reactivo! É claro que não consegue esconder que é um carro pesado que se mantém nas duas toneladas (2020 kg este S), mas há uma evolução notória não só na forma como passa de curva em curva mas também na confiança que transmite ao condutor.
Há várias razões para isso e uma das primeiras é a poupança no peso, menos 65 kg na versão S em relação à geração anterior (apesar de a nova estar carregada com muito mais equipamento), devido à utilização da plataforma MLB Evo do Grupo VW, feita num misto de aço e alumínio, com a carroçaria em alumínio. Uma ideia "bebida" do 911 foi a utilização de pneus diferentes nos eixos dianteiro e traseiro (mais largos atrás), bem como o eixo traseiro direccional. A estabilização dinâmica do chassis e o controlo electrónico da suspensão fazem o resto para manter o Cayenne bem colado ao chão, sem que se sintam exageradas transferências de massa e controlando de forma notável a natural tendência da carroçaria em adornar.
Estas características permitem acelerar no Cayenne S com toda a confiança, ainda para mais aproveitando a excelente capacidade direcional do eixo dianteiro que vai mesmo para onde lhe mandam, sem dar mostras de pretender escorregar de frente. À saída da curva pisamos o acelerador ao fundo e saímos "disparados", ganhando velocidade de forma impressionante, podendo o Cayenne S tornar-se ainda mais rápido com o "pack" Sport Chrono que lhe baixa de 5,2 para 4,9 s o tempo da aceleração até aos 100 km/h. A direcção é muito precisa e os travões – que estreiam mundialmente o novo revestimento em carboneto de tungsténio, no Porsche Surface Coated Brake (PSCB) – mostraram-se infatigáveis.
Se em termos dinâmicos o terceiro Porsche da linhagem Cayenne se mostrou melhor que nunca, faltava ver as suas características TT e descobrimo-lo num difícil percurso pelo meio dos socalcos do Douro vinhateiro. Accionando o modo de todo-o-terreno, em que a suspensão pneumática aumenta a altura ao solo e permite selecionar um de quatro modos (gravilha, areia, lama ou rochas), o SUV da Porsche torna-se uma… "cabra montesa" que parece conseguir ir a todo o lado, sem receios e sem "stress" para o condutor: o Cayenne não só se mantém parado numa subida íngreme ("Hold") se largarmos o travão e antes de acelerarmos, como tem o controlo de descida que não deixa o carro passar a velocidade previamente estabelecida.
Os homens da Porsche não fazem por menos quando dizem que o Cayenne tem de ser o melhor SUV em todos os terrenos, seja em TT, nas estradas ou em… circuitos! E agora que a concorrência vai apertar com a chegada de modelos como o Lamborghini Urus ou, dentro de dois anos, do Aston Martin DBX, o Cayenne teve, de facto, uma evolução dinâmica digna de registo. No global, foi muito mais que a tradicional "evolução na continuidade"!
FICHA TÉCNICA
Motor: V6 biturbo 2.9
Cilindrada: 2.894 cc
Potência máxima: 440/5.700 – 6.600 rpm
Binário máximo: 550 Nm/1.480 – 5.500 rpm
Velocidade máxima: 265 km/h
0 a 100 km/h: 5,2 s
Consumo médio: 9,4 litros/100 km
Emissões CO2: 213 g/km
Preço: 119.770 €
+ DINÂMICA. Apesar das suas dimensões e peso, que não deixa de se notar, o Cayenne está mais ágil que nunca, mais… Porsche que nunca! E não é só na estrada que se nota essa evolução, a forma como evolui em maus caminhos de TT não deixa de surpreender
- OPCIONAIS. O novo Cayenne pode atingir um nível tecnológico elevadíssimo, nas ajudas à condução, no dinamismo, no conforto ou na conectividade. Mas para chegar ao máximo que a Porsche tem para dar é preciso ainda gastar uns bons milhares de euros em extras…
Por agora, o SUV maior da Porsche está à venda em Portugal em três versões com as seguintes características e preços:
Motor Potência Preço
Cayenne V6 turbo 340 cv 101.772 €
Cayenne S V6 biturbo 440 cv 119.770 €
Cayenne Turbo V8 biturbo 550 cv 188.582 €
Mais tarde chegará a motorização Diesel que está a tornar-se pouco significativa na gama Cayenne e a mais aguardada versão híbrida "plug-in" que não foi ainda apresentada. Não se sabe, por isso, se manterá os valores de potência total da actual ou se seguirá a tendência das três versões já lançadas que viram as suas potências aumentadas face à geração anterior, apesar do "downsizing" dos motores: o Cayenne passou de 3.6 para 3.0 e ganhou 40 cv; o S baixou de 3.6 para 2.9 e ganhou 20 cv; o Turbo recuou de 4.8 para 4.0 e tem mais 30 cv.
É verdade que esta terceira geração do Porsche Cayenne já conta com diversos elementos de auxílio à condução de série, como os faróis de LED, assistente de travagem de emergência com protecção de peões, "cruise control" com limitador de velocidade ou sensores de estacionamento à frente e atrás. Mas há muito mais sistemas que se encontram na lista de opções, como os assistentes de visão nocturna, de mudança de faixa ou de manutenção na faixa com leitor de sinais de trânsito, "cruise control" adaptativo ou a câmara "surround view" que ajuda ainda mais no estacionamento. E haverá uma evolução destes sistemas em meados deste ano.