Foi há menos de oito anos, em Março de 2010, que a Nissan agitou as águas ao lançar o Leaf, um familiar feito propositadamente para ser apenas eléctrico. Tinha autonomia de 122 km… Mas garantiu à marca nipónica uma legião de fãs do modelo e empurrou-a para a liderança da mobilidade sem gases de escape. Aquilo que, na altura, pareceu a muitos uma bizarria veio a mostrar-se um esforço pioneiro, num crescimento que tem sido exponencial nos últimos anos e que se anuncia… "explosivo" nos próximos!
Enquanto muitos construtores estão a começar agora a sua "aventura eléctrica", já a Nissan vai na segunda geração do Leaf, melhorada não só pela sua própria pesquisa e desenvolvimento, mas ouvindo os conselhos que os seus clientes, sempre muito activos a nível de redes sociais, lhe foram dando. E, depois de vender 300 mil Leaf da primeira geração e de ter uma experiência de 3,9 mil milhões de quilómetros acumulados, a marca nipónica não podia deitar fora tanta informação… Aproveitou-a para melhorar este "Leaf 2.0" que pudemos guiar pelas auto-estradas e estradas montanhosas de Tenerife (Canárias, Espanha).
DESIGN. Mudou muito o Nissan Leaf e, essencialmente, para se tornar mais consensual. Afinal não só já não precisa de se destacar da paisagem automóvel pela diferença, como necessita de agradar a um leque muito mais amplo de clientes que, entretanto, se convenceram pela mobilidade eléctrica. Ficou mais… normal, integrando os elementos típicos da actual linha Nissan, em especial o formato em V da frente (que noutros modelos será a grelha…) ou os faróis, mais os pequenos apontamentos azuis que remetem para o automóvel eléctrico ou a tampa que esconde as duas "bocas" de carregamento da bateria, o normal e o rápido.
O visual é agora mais homogéneo e também ganhou na aerodinâmica, com um coeficiente de apenas 0,28. O cuidado foi ao ponto de alterar a peça que "emoldura" o vidro traseiro por causa dos ventos laterais e, assim, ganhar mais 2,5 km de autonomia! O novo Leaf mantém a distância entre eixos nos 2,70 m, estando 5 cm mais comprido (4,49 m) e 2 cm mais largo que o anterior (1,79 m), mas 1 cm mais baixo (1,54 m), alterações mínimas mas que permitiram que o centro de gravidade baixasse 5 mm, com benefícios na parte dinâmica.
HABITÁCULO. Embora redesenhado, o interior continua a ser familiar, mas está obviamente mais evoluído, tendo ganho alguns comandos novos, tanto na consola central como no volante. Neste último, o botão do sistema ProPilot, condução autónoma de nível 2 que obriga a manter as mãos no volante. Na consola, a destacar o botão que liga o e-Pedal, outra novidade desta geração que pode alterar a forma como se conduz, nomeadamente em ambiente urbano. Ambos os dispositivos são de série nos níveis N-Connecta e Tekna.
O habitáculo mantém-se espaçoso (as baterias estão arrumadas por baixo) e o isolamento acústico foi reforçado para diminuir os ruídos aerodinâmicos e do rolamento dos pneus, para aumento do conforto. Os bancos envolvem bem o corpo e por todo o carro (bancos, painel de instrumentos e volante) há pespontos azuis que remetem para a mobilidade eléctrica e dão um toque mais alegre ao habitáculo.
Notória é a evolução a nível dos materiais empregues, em especial nos níveis mais altos de acabamento/equipamento, aqueles que experimentámos. Por fim, o volume da bagageira cresceu de 370 para 435 litros que podem chegar aos 1176 litros pelo rebatimento (60:40) das costas dos bancos traseiros.
Primeira experiência com o novo Nissan Leaf e todos os detalhes que precisa saber
MOTOR. Outra das grandes evoluções do novo Leaf que sobe claramente um patamar, é o motor eléctrico, agora a debitar o equivalente a 150 cv e 320 Nm de binário, evolução de, respectivamente, 38% (eram 109 cv) e 26% (254 Nm)! Também a bateria de iões de lítio viu a sua capacidade passar de 30 para 40 kWh – basicamente pelo aumento da densidade energética, já que não ocupa muito mais espaço – permitindo o crescimento da autonomia… ou das "performances".
Sem preocupações de poupança, o Nissan Leaf consegue agora acelerar até aos 100 km/h em apenas 7,9 s, o que já é um valor de automóvel "geniquento"! No campo do alcance, a marca nipónica reivindica 378 km segundo o velho ciclo NEDC, mas é das primeiras a adiantar valores segundo o novo ciclo de que vamos começar a ouvir falar com frequência: o WLTP, a sigla de Worldwide Harmonised Light Vehicle Test Procedure, as novas homologações laboratoriais mais próximas da vida real. Segundo o ciclo WLTP, o Leaf faz 270 km num percurso misto e 415 km em circulação puramente citadina.
AO VOLANTE. O manuseamento do Leaf não apresenta qualquer novidade, a não ser que se acabou, finalmente, aquele travão-de-mão que era… de pé, substituído por um eléctrico. A caixa continua a ser comandada por aquela bolinha esbranquiçada, com as posições D e B, a primeira em que o Leaf acelera à vontade, a segunda em que regenera mais energia na travagem.
Nos primeiros metros tirámos a limpo essa evolução dinâmica do eléctrico da Nissan e a resposta deixou-nos impressionado, com uma aceleração rapidíssima e um curvar com enorme à-vontade pelo baixo centro de gravidade, em que apenas os pneus de baixo atrito não acompanham. O Leaf não é para andar a fazer corridas mas, se alguém o espicaçar, não é carro para se ficar… desde que não se passe dos 144 km/h de velocidade máxima, o que até já dá multa!
Interessava, contudo, experimentá-lo na sua vertente mais ecológica e tecnológica. A auto-estrada foi perfeita para testar o sistema ProPilot que manteve o carro no centro da faixa com razoável estabilidade (apesar da forte ventania), travando e acelerando até à velocidade pré-determinada consoante tinha trânsito à frente ou estrada livre. Não se pode tirar as mãos do volante que, ao fim de poucos segundos, ele apita exigindo a "presença" das mãos do condutor. Se ao fim de três avisos sonoros nada acontecer, o Leaf abranda na faixa lentamente até parar com os quatro piscas ligados, pois parte do princípio que algo sucedeu ao condutor.
Chegados à cidade, ligámos o e-Pedal e sentimos de imediato a sua força de travagem. Aqui a ideia é conseguir guiar sem tocar no travão, bastando levantar o pé do acelerador para o Leaf travar forte e até mesmo à sua imobilização, acendendo os "stops". No fundo, é algo que o BMW i3 também faz "de série", a vantagem do Leaf é que se pode accionar o e-Pedal quando é preciso – cidade, descidas prolongadas ou até, depois de algum hábito, numa condução mais "viva"! – e desligá-lo, por exemplo, na auto-estrada, onde só queremos que o carro role, com pouco atrito.
O percurso escolhido pela Nissan para o primeiro contacto com o Leaf era totalmente… contra o seu novo modelo! Desde auto-estrada em que não há regeneração de energia, até uma prolongada subida de montanha no que seria um longo e fabuloso troço de rali, tudo parecia feito para gastar energia e reduzir a autonomia a mínimos históricos… Mesmo com a descida a regenerar bastante e a ajuda do e-Pedal, nunca se recupera nada que se pareça com o que se gastou. Mesmo assim, e fazendo a auto-estrada a 120 km/h, teríamos tido energia para fazer à volta de 230 km, o que significa que num percurso mais "normal" chegaríamos com facilidade aos valores do ciclo combinado do WLTP.
A agradabilidade de condução, essa continua a mesma a nível do conforto. Mas muito melhorada em termos dinâmicos, pela resposta pronta do Leaf, mas também pelas melhorias a nível de rigidez estrutural, da suspensão dianteira e da direcção que se tornou mais directa (2,6 voltas de ponta a ponta, em vez de 3,2). Uma enorme evolução em todas as áreas que manterá, para já, o Leaf como referência entre os familiares eléctricos do segmento C e que já o deixa preparado para a forte concorrência que se anuncia.
Ficha técnica
Motor Eléctrico, síncrono
Potência máxima 110 kW (150 cv)
Binário máximo 320 Nm /0 – 3.283 rpm
Capac. bateria 40 kWh
Velocidade máxima 144 km/h
0 a 100 km/h 7,9 s
Consumo médio 14,8 kWh/100 km
Preço desde 32.250 €
Preços dos quatro níveis de equipamento do Nissan Leaf em Portugal, onde as entregas começarão entre finais de Março, início de Abril:
Visia 32.250 €
Acenta 33.800 €
N-Connecta 35.250 €
Tekna 37.750 €
Como opções para todos, apenas a pintura metalizada (550 €) ou a pintura branca (200 €). A pintura bitom (branco com tejadilho negro) apenas está disponível nos níveis N-Connecta e Tekna, por 400 €. O sistema ProPilot Park (em que o carro estaciona sozinho paralela ou perpendicularmente ao passeio) apenas pode ser instalado no nível Tekna, por 500 €.
Os cabos de carregamento tanto para uma normal ficha doméstica de 10 A (21 horas para carga completa) como para as fichas dos postos públicos vêm de série com o Leaf. Já a instalação de uma "wallbox" para carregamento doméstico tem de ser paga, num valor ainda não definido mas que será superior aos 500 €. Dependerá da amperagem instalada: se houver uma instalação de 32 A poderá carregar a 7,3 kW, demorando 7,5 horas a carregar totalmente, tempo que duplica no caso de a instalação só suportar 16 A (o mais corrente), o que faz com que a "wallbox" trabalhe apenas a 3,2 kW. Nos postos de carregamento rápido, a bateria do Leaf vai do quase vazio a 80% em 40 a 60 minutos.
Gratuita é a aplicação que permite, a partir de um "smartphone", entre outras coisas, programar a hora ideal de iniciar o carregamento (apontando para a chamada hora "de vazio", em que a energia é mais barata) ou a climatização para o carro estar à temperatura ideal e conhecer o estado da bateria.
É com este Leaf que a Nissan Portugal pretende atingir o muito ambicioso objectivo de vender 1400 carros só este ano, com entregas em apenas nove meses! Nos últimos dois anos entregou pouco mais de duas centenas de Leaf por ano… Mas antes de qualquer publicidade ou contacto com o carro, já tem… 550 unidades vendidas, sendo 378 a particulares e empresas e as restantes para uma empresa pública a anunciar, na sequência de um concurso! O objectivo vai, pois, bem encaminhado, num 2018 em que se espera que, pelo segundo ano consecutivo, o mercado português de veículos eléctricos quase duplique, atingindo desta feitas as 3250 unidades.