Substituir um modelo que esteve em produção durante 67 anos era uma tarefa hercúlea e a Land Rover sabia-o. Mas ainda assim, a marca britânica assumiu esta responsabilidade e trouxe o Defender para o séc. XXI.
A forma do Defender original é uma das mais reconhecidas na indústria automóvel, pelo que não é fácil olhar para este novo modelo e reconhecê-lo já como tal. Seria muito mais fácil criar um Defender igual ao original mas com elementos modernos, mas a Land Rover não quis ir pela via mais fácil e apresentou-nos um modelo com identidade própria, com acabamentos robustos e com linhas muito simples.
Se olharmos com atenção, percebemos que o perfil é facilmente reconhecível, apesar da forma ser inovadora e de nos transmitir uma sensação de robustez, detalhe que assenta que nem uma luva num automóvel que carrega em si décadas e décadas de aventuras fora de estrada.
"O novo Defender respeita o seu passado, mas não é limitado por este. Este é um novo Defender para uma Nova Era. A sua personalidade única é realçada pelo perfil distinto e proporções equilibradas, o que o torna extremamente desejável e muito capaz: um 4x4 visualmente atraente que conjuga a sua integridade de design e engenharia com um compromisso inabalável", afirmou Gerry McGovern, Chief Design Officer da Land Rover, durante a apresentação do modelo.
Outra das novidades são os vários pontos em comum com a restante gama Land Rover, ainda que a marca tenha feito um esforço para manter a essência do modelo original. O enorme portão traseiro de abertura lateral é exemplo disso mesmo.
Dentro do habitáculo, um notório salto ao nível do conforto, da insonorizarão sonora e claro, da tecnologia. Mas no geral, o interior é muito funcional e simples, tal como no Defender original. Destacam-se os parafusos à vista e os painéis das portas expostos.
Existem espaços de arrumação espalhados por toda a carroçaria e a enorme consola central esconde um compartimento de refrigeração que ganha ainda mais importância durante os dias de mais calor.
Como seria de esperar, o novo Defender chega com as mais recentes soluções tecnológicas da marca de Solihull. Incorpora um ecrã táctil da nova geração com o sistema de informação e entretenimento Pivi Pro e um painel de instrumentos digital. Os sistemas multimédia da Jaguar Land Rover já eram uma referência na indústria, mas nesta sua última actualização conseguiram ir ainda mais longe. A organização visual é fantástica e a leitura dos grafismos é óptima.
As exigências actuais são bem diferentes do que eram no passado, pelo que pedir um Defender igual ao original seria sempre um exercício utópico. Para bem de todos, a Land Rover respondeu com uma proposta mais refinada do que nunca, que aprendeu a ser um "estradista" e a comportar-se fora do mato.
Ao volante: um Defender refinado? Sim...
A posição de condução é bastante elevada e sentimos sempre que estamos aos comandos de um automóvel enorme. Mas ao contrário do que acontecia com o modelo original, este novo Defender está muito melhor preparado para "atacar" os desafios diários, sobretudo na "selva" urbana. Continua a ser um automóvel de proporções gigantescas e é muito fácil estar ao nível de carrinhas de mercadorias quando paramos num sinal, por exemplo. Porém, este Defender não só é muito mais fácil de conduzir como se faz valer dos mais recentes sistemas de auxílio às manobras, como a câmara traseira, por exemplo, que torna qualquer estacionamento mais apertado menos assustador.
Porém, este novo Defender dá muito boa conta de si em estrada e atrevo-me a dizer que foi um dos capítulos onde mais evoluiu. Mas subindo a suspensão pneumática e alternando entre os modos do "Terrain Response 2", podemos atacar qualquer troço de TT com confiança. Aqui, o motor a gasolina de 3.0 litros com 400 cv da versão que testámos, a P400, sobressai e mostra uma eficácia impressionante.
É fora de estrada que o Defender se sente como "peixe na água", subindo e descendo montes sem se recusar a nada e sem acusar qualquer "cansaço". Pode ter ganho uma imagem mais "premium", mais alinhada com a restante gama da marca, mas os atributos de todo-o-terreno "puro e duro" continuam todos cá.
O Defender 110 pesa quase 2.5 toneladas, mas na versão P400, com 400 cv e 550 Nm, é capaz de acelerar dos 0 aos 100 km/h em apenas 6,1 segundos, convidando-nos mesmo a andar rápido - a velocidade máxima está fixada nos 191 km/h, apesar do porte atlético considerável. A primeira vez que pisamos o pedal direito a fundo sentimos uma sensação que tem tanto de desnecessária como de fantástica. Não é suposto um Defender ter todo este "poder de fogo" e estou seguro que muitos dos clientes que o vão comprar nunca chegarão a tirar o proveito deste poderoso bloco de seis cilindros, mas que é impressionante, lá isso é!
Disponível apenas com tracção integral, como tem de ser, este Defender conta ainda com uma caixa de velocidade automática de 8 relações feita pela ZF. Tem ainda redutoras e vários modos de condução disponíveis.
Fora de estrada o Defender não só se mostra à altura do nome que carrega como se revela mais capaz do que nunca para atacar desafios mais radicais. A culpa é, em parte, da fantástica suspensão pneumática, que nos permite subir a suspensão e, por consequência, a altura ao solo. Os ângulos mostram bem aquilo que este Defender é capaz: 38 graus de ataque, 28 graus de passagem ventral e 40 graus de ângulo de saída. O modo "Wade" permite ultrapassar valas de água com até 900 mm de profundidade.
Mais versátil do que nunca e tão robusto como sempre, o novo Defender pode não ter a imagem que muitos queriam, mas é, por culpa dos argumentos mecânicos e tecnológicos que exibe, uma proposta que vem para deixar marca e que quer dominar.
Está longe de ser barato, como os 107.935 euros da versão ensaiada bem mostram, mas esse é o preço a pagar por um dos automóveis mais capazes da actualidade fora de estrada. Mas porque os tempos e as exigências são outras, a Land Rover teve a capacidade de perceber que ser um TT "puro-e-duro", como o Defender original, não chegava. Como tal, deu-lhe acabamentos de primeira, deixou-o muito mais confortável e fez dele um automóvel muito capaz em estrada.
Tudo somado, este novo Defender é um automóvel muito versátil, repleto de tecnologia e equipado com os mais recentes sistemas de ajuda à condução do Jaguar Land Rover. E sim, o preço é elevado, mas semelhante ao Defender só existe outro automóvel no mercado nacional, o Mercedes-Benz Classe G, que arranca nos 168.599 euros.
Ficha Técnica
Motor: 3.0 com 6 cilindros em linha
Cilindrada: 2996 cc
Potência Máxima: 400 cv (às 5500 rpm)
Binário Máximo: 550 Nm (2000 - 5000 rpm)
Velocidade Máxima: 191 km/h
0-100 km/h: 6,1 s
Consumo Médio: 11,4 l/100 km
Emissões CO2: 259 gr/km
Preço desde: 90.557 euros
+ Versatilidade: O Defender mantém as competências todo-o-terreno que lhe deram o nome, mas está mais refinado, muito melhor em estrada e capaz de assumir o papel de familiar.
- Preço: versão ensaiada incluía "mordomias" como jantes de 20’’ (2842€) ou tejadilho de abrir panorâmico (2086€) e isso fez o preço disparar para lá dos 100 mil euros