O Mégane R.S. Trophy é uma das criações mais fantásticas da Renault nos últimos anos, mas a sua divisão desportiva, a Renault Sport, quis ir mais longe e criou uma versão ainda mais impressionante: eis o Renault Mégane R.S. Trophy R.
A Renault Sport sempre nos habituou a criações distintas e a automóveis insanos, mas este R.S. Trophy R têm ainda mais valor por ser lançado agora, numa altura em que a União Europeia tem a mira apontada às emissões.
Isso não impediu a divisão desportiva da marca francesa de imaginar uma versão ainda mais radical do Mégane, que já conta com três variantes desportivas: R.S., R.S. Trophy e agora R.S. Trophy R. Este modelo está limitado a 500 exemplares em todo o mundo, sendo que apenas 10 unidades estarão disponíveis em Portugal.
Pode ter autorização para andar na estrada, mas esta podia muito bem ser uma proposta destinada a um campeonato de turismos. Imaginado para uma utilização em pista, o Trophy R assume-se como o carro de tracção dianteira (de produção) mais rápido de sempre.
Nós já o conduzimos e contamos-lhe tudo o que precisa de saber sobre este "super hot-hatch". Mas sem querer estragar a surpresa, podemos já dizer-lhe que é… incrível!
Entre a guerra dos compactos desportivos, chega uma altura em que é difícil tirar mais potência dos motores, até porque estamos a falar de automóveis maioritariamente de tracção dianteira. Como tal, a Renault seguiu um caminho diferente e optou por tirar tudo o que era dispensável.
Os bancos traseiros, por exemplo, desapareceram, as jantes (opcionais) são de carbono e custam quase 15 mil euros, o capot é em fibra de carbono e conta com "guelras" para deixar o motor respirar e o sistema de escape em titânio é da Akrapovic. Este sistema de escape, além de oferecer um som vibrante e que nos deixa empolgados, permite uma redução de peso na ordem dos 6 quilos, ao passo que as jantes em carbono especiais, desenvolvidas pela Carbon Revolution, permitem um ganho de 2 quilos por roda.
Mas há mais, muito mais. Para esta versão a Renault livrou-se do sistema de quatro rodas direccionais e isso permitiu uma redução de peso de 38 quilos. Na dianteira, os faróis R.S. Vision - na forma de uma bandeira de xadrez - foram substituídos por duas entradas de ar e isso permitiu um ganho de mais 2 quilos. Contas feitas, o Trophy R pesa apenas 1.306 quilos, cerca de 130 quilos a menos por comparação com o Mégane R.S. Trophy.
Quanto à aerodinâmica, foram aplicadas carenagens específicas sob a carroçaria e foi instalado um novo difusor traseiro em fibra de carbono.
Disponível apenas com um esquema de cores (branco e vermelho), o Trophy R é um verdadeiro carro de competição com autorização para andar em estrada.
Assim que entramos no habitáculo, vemos duas bacquets monobloco da Sabelt em Alcantara que permitem um ganho de 7 quilos por banco, tal como num carro de corridas. Não há qualquer ajuste manual ou electrónico e se quisermos alterar a altura do banco temos que fazê-lo com o auxílio de uma chave de parafusos.
O encaixe do corpo nestes bancos é excecional, ainda que os joelhos fiquem perigosamente próximos da parte inferior do volante. O punho da caixa bastante baixo e o volante de pega desportiva também ajudam a "vender" esta imagem de carro de circuito, mas é quando pressionamos o botão da ignição e ouvimos o ronco do motor a sair pelo escape Akrapovic que percebemos que esta vai ser uma experiência diferente.
O motor 1.8 de quatro cilindros com 300 cv e 400 Nm que conhecemos do Trophy não sofreu alterações, mas o peso muda quase tudo. A potência é enviada em exclusivo às duas rodas da frente através de uma caixa manual de seis velocidades.
Graças a estes números, o Mégane R.S. Trophy R é capaz de acelerar até aos 262 km/h de velocidade máxima e precisa de apenas 5,4 segundos para ir dos 0 aos 100 km/h. Estes registos valeram-lhe o título de automóvel de produção com tracção dianteira mais rápido de sempre no mítico circuito de Nürburgring.
A baixos regimes, a resposta do motor impressiona, mas é a partir das 3.000 rpm que sentimos que ele ganha ainda mais vida. Aqui, sentimos todo o nervosismo deste bloco, que tem tanto de elegante, quando deixamos o controlo do acelerador fazer todo o trabalho em curva, como de violento, quando pisamos o acelerador a fundo e percebemos que o diferencial Torsen tem alguma dificuldade em lidar com toda a potência que é colocada no asfalto.
Quanto aos consumos, e apesar da Renault anunciar uma média a rondar os 8 litros por cada 100 quilómetros, conseguimos andar sempre próximo dos 9,5 l/100 km, um registo ainda assim muito interessante para um automóvel como este, que num troço como o da Serra de Montejunto, onde o fomos testar, consegue estar a um nível muito próximo daquele que conseguimos com um superdesportivo.
Entre os modos de condução disponíveis no sistema "R.S. Drive", o Race é aquele que deixa este Mégane R.S. Trophy R mais nervoso, até porque os controlos electrónicos ficam bastante mais permissivos, dando-nos outro tipo de liberdade para usar e abusar deste Mégane. É certo que isto acarreta mais riscos, mas é aqui que conseguimos tirar todo o proveito deste modelo, que nos deixa constantemente com um sorrido de orelha a orelha.
O único apontamento negativo vai para a caixa de velocidades, que podia ser ligeiramente mais fluída.
Este é um verdadeiro brinquedo para adultos, porque numa utilização diária é um automóvel bastante rijo e pouco prático, até porque nem tempos a segunda fila de bancos. Mas sempre que o conduzimos sentimos que é um automóvel especial e isso, muitas vezes, é mais importante do que tudo o resto.
É difícil justificar os mais de 30 mil euros de diferença para a versão convencional do Trophy, mas este Mégane R.S. Trophy R é um automóvel verdadeiramente especial e isso ajuda a perceber os 81.500 euros que a Renault pede por ele.
Mas respondendo a esta questão, tem tudo a ver com as motivações da compra. Se quisermos ser racionais, provavelmente este é um preço exorbitante. Se preferirmos, por outro lado, ouvir a voz da emoção, então sim, vale cada cêntimo que custa.
Ficha Técnica
Motor: 4 cilindros turbo
Cilindrada: 1798 cc
Potência Máxima: 300 cv
Binário Máximo: 400 Nm
Velocidade Máxima: 262 km/h
0-100 km/h: 5,4 s
Consumo Médio: 8 l/100 km
Emissões CO2: 180 gr/km
Preço desde: 81.500 euros
+ Exclusividade: só existem 500 unidades em todo o mundo e apenas 10 vieram para Portugal
- Preço: os mais racionais dirão que não se justifica, mas este é um automóvel destinado a quem gosta verdadeiramente de conduzir.
Miguel Dias