Em Julho tivemos o primeiro contacto com o novo Land Rover Defender. Foram só algumas horas, mas chegaram para perceber que este Defender era muito diferente do original e vinha para deixar marca num mercado onde só encontra réplica no Classe G da Mercedes-Benz e no Jeep Wrangler.
Agora, dois meses depois, pudemos fazer um teste bastante mais exaustivo a este modelo e vivemos com ele durante uma semana. Durante esse tempo fizemos tudo com ele, desde ir às compras até ir à baixa de Lisboa, passando pelo areal branco da Quinta do Conde.
Esta é a pergunta que todos fazem e a resposta é, na verdade, muito simples: sim, ainda é um Defender! Replicar a forma do Defender original, uma das mais reconhecidas na indústria automóvel, era o caminho mais fácil. Mas a marca britânica não quis seguir essa estrada e apresentou-nos um modelo com identidade própria.
Se olharmos com atenção, percebemos que o perfil é facilmente reconhecível, apesar da forma ser inovadora e de nos transmitir uma sensação de robustez, detalhe que assenta que nem uma luva num automóvel que carrega em si décadas e décadas de aventuras fora de estrada.
A imagem continua a ser bastante impactante, sobretudo porque está associada a um "corpo" atlético com proporções verdadeiramente impressionantes: 5,02 metros de comprimento (com a roda de reserva), 2,10 metros de largura e 1,97 metros de comprimento.
Outra das novidades são os vários pontos em comum com a restante gama Land Rover, ainda que a marca tenha feito um esforço para manter a essência do modelo original. O enorme portão traseiro de abertura lateral é exemplo disso mesmo, tal como os parafusos à vista e os painéis interiores das portas expostos.
Dentro do habitáculo, um notório salto ao nível do conforto, da insonorizarão sonora e claro, da tecnologia. Mas no geral, o interior é muito funcional e muito simples, tal como no Defender original.
Existem espaços de arrumação espalhados por toda a carroçaria e a enorme consola central esconde um compartimento de refrigeração que ganha ainda mais importância durante os dias de mais calor.
Como seria de esperar, o novo Defender chega com as mais recentes soluções tecnológicas da marca de Solihull. Incorpora um ecrã táctil da nova geração com o sistema de informação e entretenimento Pivi Pro e um painel de instrumentos digital. Os sistemas multimédia da Jaguar Land Rover já eram uma referência na indústria, mas nesta sua última actualização conseguiram ir ainda mais longe. A organização visual é fantástica e a leitura dos grafismos é óptima.
Mas vamos ao que mais interessa, o comportamento em estrada… e fora dela! A boa notícia é que agora, e ao contrário do que acontecia com o Defender original, a direcção deixou de ser dura, passámos a ter espaço para os cotovelos e deixámos de andar espremidos contra os painéis das portas.
A posição de condução é bastante elevada e sentimos sempre que estamos aos comandos de um automóvel enorme. Mas ao contrário do que acontecia com o modelo original, este novo Defender está muito melhor preparado para "atacar" os desafios diários, sobretudo na "selva" urbana.
Mesmo com mais de 5 metros de comprimento e quase 2 metros de altura, andar na baixa de Lisboa com este Defender não só é um exercício possível como é muito mais fácil do que se pode imaginar. Para isso muito contribui a fantástica direcção deste modelo e os vários sistemas tecnológicos de auxílio à condução e às manobras, nomeadamente a câmara de estacionamento traseira.
Mas a maior diferença é mesmo no comportamento em estrada, com este Defender a revelar-se um automóvel preciso, estável e muito confortável. Quando atacamos uma curva de forma mais violenta, continuamos a sentir a carroçaria a puxar ligeiramente para fora, mas nada que chegue a ser incómodo, até porque não estamos num automóvel de cariz propriamente desportivo… ou dinâmico. Porém, este novo Defender dá muito boa conta de si em estrada e atrevo-me a dizer que foi o capítulo onde mais evoluiu.
Pelos trilhos da Quinta do Conde, e configurando o sistema "Terrain Response 2" para Areia ou Pedra Duras, este Defender avança com a mesma facilidade com que o faz em estrada. Subir e descer paredes de areia é um exercício onde este Land Rover nem chega a acusar qualquer cansaço, mostrando-se sempre à altura do nome que carrega.
A culpa é, em parte, da fantástica suspensão pneumática, que tem um curso de mais de 30 cm. Os ângulos mostram bem aquilo que este Defender é capaz: 38 graus de ataque, 28 graus de passagem ventral e 40 graus de ângulo de saída. O modo "Wade" permite ultrapassar valas de água com até 900 mm de profundidade.
O Defender 110 pesa quase 2.5 toneladas, mas na versão P400, com 400 cv e 550 Nm, é capaz de acelerar dos 0 aos 100 km/h em apenas 6,1 segundos, convidando-nos mesmo a andar rápido - a velocidade máxima está fixada nos 191 km/h, apesar do porte atlético considerável.
A primeira vez que pisamos o pedal direito a fundo sentimos uma sensação que tem tanto de desnecessária como de fantástica. Não é suposto um Defender ter todo este "poder de fogo" e estou seguro que muitos dos clientes que o vão comprar nunca chegarão a tirar todo o proveito deste poderoso bloco de seis cilindros, mas que é impressionante, lá isso é!
Na configuração que testámos, o Defender custa 107.935 euros e isso está longe de ser barato. Mas depois de uma semana com ele, percebemos que é um automóvel muito especial em quase tudo o que faz e isso paga-se.
Mais versátil do que nunca e tão robusto como sempre, o novo Defender pode não ter a imagem que muitos queriam, mas é, por culpa dos argumentos mecânicos e tecnológicos que exibe, uma proposta que vem para deixar marca.
A Land Rover teve a capacidade de perceber que ser um TT "puro-e-duro", como o Defender original, já não chegava. Como tal, deu-lhe acabamentos de primeira, deixou-o muito mais confortável e fez dele um automóvel muito capaz em estrada.
Uns podem dizer que estas são as exigências do presente, mas eu prefiro ir mais longe e dizer: ainda bem que elas existem. É que assim temos um Defender muito mais completo e muito mais versátil.
Ficha Técnica
Motor: 3.0 com 6 cilindros em linha
Cilindrada: 2996 cc
Potência Máxima: 400 cv (às 5500 rpm)
Binário Máximo: 550 Nm (2000 - 5000 rpm)
Velocidade Máxima: 191 km/h
0-100 km/h: 6,1 s
Consumo Médio: 11,4 l/100 km
Emissões CO2: 259 gr/km
Preço desde: 90.557 euros
+ Versatilidade: O Defender mantém as competências todo-o-terreno que lhe deram o nome, mas está mais refinado, muito melhor em estrada e capaz de assumir o papel de familiar.
- Preço: versão ensaiada incluía "mordomias" como jantes de 20’’ (2842€) ou tejadilho de abrir panorâmico (2086€) e isso fez o preço disparar para lá dos 100 mil euros.
Miguel Dias