Vinte e seis anos distanciam estes dois Honda NSX, mas há muito mais a uni-los que a separá-los! Para começar, a busca constante da perfeição que sempre foi o objectivo supremo de Soichiro Honda, o fundador da marca que ainda assistiu ao nascimento da primeira geração do superdesportivo, comercializado um ano antes do seu desaparecimento. Mas também a
busca dos avanços tecnológicos mais importantes em cada época: se agora é todo o sistema híbrido, na altura era a busca do baixo peso.
O Honda NSX foi o primeiro automóvel produzido em grande série com toda a carroçaria em alumínio. A Ferrari faria o mesmo… dez anos depois! Tinha também um motor V6 3.0 em alumínio com o então novo sistema VTEC de variação da abertura das válvulas, debitando 270 cv. Em 1997 seria substituído pelo 3.2 com 290 cv.
A primeira aparição pública do NSX – acrónimo de New Sportscar eXperimental – foi no salão de Chicago, no início de 1989, a um ano da sua comercialização e numa altura em que, nos bastidores, se vivia um autêntico drama! Após longos meses de testes, os engenheiros da Honda achavam que tinham um desportivo capaz de fazer frente aos Ferrari e Porsche. Aproveitando a presença de Ayrton Senna no Japão para testar o McLaren/Honda, em Fevereiro de 89, pediram-lhe para guiar o protótipo do NSX na pista de Suzuka.
O campeão brasileiro procurou ser o mais diplomático possível mas… deixou-os em choque!
"Não sei se serei a pessoa indicada para dar uma opinião sobre um carro de produção mas… parece-me algo frágil", comentou Senna. A apresentação do carro à imprensa mundial estava marcada para esse Verão, mas os engenheiros nipónicos conseguiram
aumentar a rigidez do NSX em 50% e o piloto brasileiro ainda os ajudou na afinação das suspensões. Um último teste no Nürburgring tirou as dúvidas, tinham de facto um dos melhores superdesportivos do mercado e pronto a ser comercializado em 1990!
O resultado final foi tão bom que o próprio Ayrton Senna adorava o carro e costumava guiar dois nas suas longas estadias em Portugal: o vermelho (SX-25-59) era um carro de serviço que pertencia à Honda Portugal mas que lhe estava entregue e que estava muitas vezes na sua casa do Algarve, na Quinta do Lago; o preto era do seu grande amigo António Carlos de Almeida Braga ("Braguinha"), em cuja casa de Sintra costumava ficar. E chegou a filmar, na serra da Arrábida, anúncios televisivos do NSX.
No final de 1992, quando a McLaren deixou de usar motores Honda, Senna devolveu o seu NSX de serviço à Honda Portugal. Mas as saudades… Na época seguinte, embora já não fosse piloto Honda, quando veio para o G.P. de Portugal, pediu o "seu" NSX emprestado para aqueles dias…
Por essa altura, o Honda NSX custava vinte mil contos, o equivalente a actuais cem mil euros. Metade do que custará o novo. Mas foi pela contribuição de Ayrton Senna que aquele modelo desportivo da Honda se tornou num automóvel de culto. Justificando que, um quarto de século depois, a marca nipónica tenha recuperado uma sigla célebre para
o seu novo superdesportivo. Porque basta invadir a memória e o imaginário dos apaixonados por automóveis de excepção para mais de metade do trabalho de "marketing" estar feito!