Enjoar para… treinar para os carros autónomos

Felizmente que há pessoas com coragem para se sujeitar às mais terríveis sevícias em nome… da ciência! Porque há estudos que nos serão muito úteis mas… por favor! Num simulador britânico andam a agoniar pessoas de propósito, só para estudarem formas de os ocupantes dos futuros automóveis autónomos não enjoarem…

Antecipando a proliferação de automóveis autónomos, antevê-se que os seus ocupantes passem a distrair-se com outras tarefas, podendo aproveitar o tempo para ler as notícias no "tablet", interagir com o "smartphone", jogar em consolas ou até actividades antiquérrimas como… ler um livro. E muitos sabemos o que sucede quando se tentar ler qualquer coisa num carro em movimento, é enjoo pela certa ao fim de poucos minutos…

Os engenheiros de vários construtores automóveis já começaram a trabalhar para que os futuros automóveis autónomos não provoquem os mesmos enjoos e têm recorrido a um simulador específico de uma companhia britânica, a Ansible Motion. "Não se limita a medir as reacções humanas como outros simuladores ou até os simuladores de voos onde se treinam os pilotos, pois pode simular protótipos de automóveis e os mais variados componentes e equipamentos", explica Phil Morse, responsável técnico do chamado "Driver in the Loop".

O enjoo é causado quando as imagens que estamos a ver não ficam sincronizadas com o movimento que estamos a sentir. O exemplo mais óbvio é lermos um livro enquanto o carro se move, as suspensões "saltitam" e as árvores da paisagem nos "passam" pelo canto do olho. Com estes simuladores, os "designers" poderão experimentar inúmeras coisas, de forma a mitigar os efeitos nauseantes nos passageiros.

Poderão, por exemplo, alterar as formas das janelas, a forma como as vibrações da estrada chegam ao habitáculo e até o próprio nível sonoro. Porque tudo isso influencia a forma como o passageiro sente a viagem e reage, o que significa que, depois destes estudos, quando os primeiros protótipos forem construídos já o problema do enjoo estará reduzido. Anulá-lo será praticamente impossível…

E uma das formas de estudar o enjoo provocado nas viagens é… induzi-lo propositadamente, alterando alguns parâmetros no próprio simulador. É isso que está a ser feito naquele "Driver in the Loop", adicionando um elemento humano que é sempre difícil de quantificar e percebendo as reacções do hipotético condutor enquanto está a desempenhar outras tarefas com o veículo a andar. Não é só inventar tecnologia para tornar os automóveis autónomos e até adaptar as infra-estruturas rodoviárias para os receber. Nós próprios, pelos vistos, também teremos de nos preparar… para nos fazermos transportar!