A Ferrari prepara-se para criar um segundo turno diário na sua fábrica de Maranello, o que significa, grosso modo, duplicar a capacidade de produção dos seus carros, mesmo que não seja essa a sua finalidade. Contudo, o presidente Sergio Marchionne fez saber que o objectivo dos nove mil carros anuais previsto para 2019 será atingido um ano antes, já em 2018, depois de fechar 2017 com 8400 carros vendidos e listas de espera de 12 meses em vários dos seus modelos!
Além disso, a Ferrari – que foi separada do grupo Fiat Auto Chrysler (FCA) em 2016 – foi a marca automóvel que mais ganhos obteve na bolsa de Nova Iorque, com uma valorização recorde de 83% este ano! O valor da marca do "cavalino" está agora calculado em 20,1 mil milhões de dólares, algo como 17,13 mil milhões de euros.
Marchionne deverá apresentar, no início do próximo ano – o último que estará à frente da Ferrari e, provavelmente, do grupo FCA, cumpridos que estarão os seus 65 anos –, o plano estratégico a médio prazo. Que incluirá uma medida verdadeiramente revolucionária, levando a Ferrari a um novo patamar: Marchionne quer que a marca não só atinja e passe a barreira das nove mil unidades anuais, como pretende fazer mais de dez mil carros por ano, daí a necessidade de reforçar a sua força de trabalho.
Aquilo que parece ser um pequeno aumento de produção tem consequências enormes! O facto de ultrapassar a barreira das 10 mil unidades anuais obrigará a Ferrari a cumprir regras de emissões bastante mais restritas e difíceis para motores tão potentes como os seus. Marchionne definiu dois caminhos: para aumentar o volume de vendas, a Ferrari irá mesmo lançar o primeiro SUV da sua história que poderá ter, pelo menos, uma pré-apresentação já no próximo ano; quanto às emissões, a tecnologia híbrida vai entrar em força em toda a gama da marca, não havendo nenhum novo modelo que não apareça equipado com uma importante ajuda eléctrica…
Assim se percebe a enorme importância do
hiperdesportivo LaFerrari! Para além da exibição tecnologia em si, serviu para quebrar quaisquer tabus que os clientes Ferrari pudessem ter face aos híbridos… Se o Ferrari mais potente e rápido é híbrido, porque não poderão os outros sê-lo também?
Objectivo último de toda esta ambiciosa estratégia? Duplicar os lucros operacionais, obviamente, de forma a compensar os accionistas, elevar o valor das acções e, assim, o da própria empresa. Estima-se que, no final deste ano, os lucros antes de impostos, amortizações e outros encargos, rondem os mil milhões de euros e o objectivo da estratégia que Marchionne vai apresentar aponta para os dois mil milhões em 2022!
E a que se deve todo este optimismo de uma marca que não tem carros, pelo menos em Portugal, abaixo dos 200 mil euros? Ao "boom" de milionários e de… bilionários verificado em todo o Mundo mas, sobretudo, na região da Ásia-Pacífico, clientes por excelência dos carros do "cavalino": segundo um estudo da "Wealth Report", na década que terminou em 2016 o número de milionários aumentou 36%, para 13,6 milhões a nível global; e poderá crescer mais 37% na década que começou este ano!; e os ganhos na Ásia-Pacífico fizeram com que os bilionários crescessem 45%!
Dinheiro e clientes não faltarão, pois, para comprar todos os modelos que a Ferrari queira fazer, continuando a sua política de construir exemplares exclusivos, alguns dos quais só se poderão conduzir em pista (
a família FXX). Mas Marchionne garante que manterá a estratégia delineada por Enzo Ferrari desde o início da marca, há 70 anos: vender sempre um carro a menos do que o mercado compraria, de forma a manter a exclusividade da marca!