Falar do Papa Pio VII é falar do facto de ter sido mantido prisioneiro por Napoleão durante quase cinco anos. Mas a verdade é que poucos sabem que Pio VII foi o primeiro Papa a chegar ao Vaticano numa carruagem em vez de a cavalgar num cavalo, como era costume na época. Corria o ano de 1800.
E este foi mesmo o meio de transporte usado pelo Papa durante várias dezenas de anos, até porque antes de 1929 o Papa estava confinado ao Vaticano por culpa de um desentendimento com o governo italiano. E foi precisamente quando esta disputa entre o líder da Igreja Católica e o governo transalpino ficou resolvida (em 1929) que o Papa começou a receber vários automóveis como forma de celebração e a fazer visitas ao estrangeiro.
Desde então já foram adaptados dezenas de veículos para servir o Sumo Pontífice e para o levar aos mais diferentes cenários, sendo que cerca de um terço desses veículos têm a assinatura da Mercedes. Porém, mais importante do que esta relação com a marca de Estugarda é o facto do Vaticano exigir sempre que o modelo ofereça grande visibilidade e, sobretudo, segurança… muito por culpa da tentativa de assassinato do Papa João Paulo II em 1981, na Praça de São Pedro, no Vaticano.
Foi a partir desta altura que o Papamóvel começou a contar com uma caixa de vidro à prova de bala em grande parte das visitas do Papa. Mas este detalhe está longe de ser o único ponto comum entre os veículos usados pelo Sumo Pontífice, já que quase todos contam com a matrícula: SCV 1, que significa "status civitatis Vaticanae", latim para "Cidade do Vaticano". E claro, o "1" é uma indicação inconfundível de que pertence ao líder máximo do Vaticano e da Igreja Católica.
Agora, altura em que Portugal se preparara para receber a visita do Papa Francisco, trazemos-lhe a evolução do Papamóvel ao longo dos anos (ver galeria).
Fiat 525 - 1929 - Papa Pio XI
Como referimos acima, a relação do Papa com os automóveis começou em 1929, sendo que nessa altura a colecção de automóveis do Vaticano já contava com um Fiat 525, um Isotta Fraschini Type 8 e um Citroen Lictoria Sex.
Graham Paige Type 837 - 1929 - Papa Pio XI
O ano de 1929 ficou marcado pela primeira visita a bordo de um automóvel fora do Vaticano em mais de 59 anos e esse protagonista foi um Graham Paige Type 837. Foi o primeiro veículo papal a ser pintado de preto e foi oferecido pelos donos da Graham-Paige Motors para celebrar os 50 anos de Pio XI como padre.
Mercedes Nurburg 460 - 1930 - Pio XI
A Mercedes é responsável por cerca de um terço dos veículos papais já utilizados e tudo começou em 1930, com o Nurburg 460 oferecido ao Papa Pio XI. Além deste modelo já contar com um trono no banco traseiro para o Papa, vinha equipado com alguns botões que permitiam ao Papa comunicar com o seu condutor e pedir-lhe coisas como: "destra" e "sinistra" (italiano para "direita" e "esquerda") ou "presto" (mais rápido).
Mercedes 300d - 1960 - Papa João XXIII
Em 1960 a Mercedes brindou João XXIII com um 300d. Além de estar equipado com controlos de comunicação na parte traseira, tal como o Nurburg 460, permitia agora que o Papa controlasse o ar condicionado. Contava ainda com um tecto em tecido que podia cobrir os bancos traseiros ou ser completamente retirado, sendo que podemos olhar para ele como o primeiro Papamóvel descapotável.
A Mercedes incluiu ainda apoios laterais nas portas para permitir ao Papa circular em pé.
Lincoln Continental - 1965 - Papa Paulo VI
Na sua visita a Nova Iorque, Paulo VI foi transportado num Lincoln Continental de 1964. Foi a primeira vez que um Papa viajou até aos Estados Unidos.
Esta limousine, que tinha cerca de 6,40 metros de comprimento, foi comprada em leilão em 2011 por 200 mil euros e está desde 2013 em exposição num museu em Tacoma.
Mercedes 600 Pullman - 1965 - Papa Paulo VI
O sucesso do Mercedes 300d levou a que a escolha do Vaticano continuasse a ser a marca de Estugarda, que desta vez forneceu um 600 Pullman com um tejadilho mais elevado de forma a garantir mais espaço para a cabeça.
Este modelo contava com um lugar central para o Papa e dois bancos para os acompanhantes do Pontífice.
Mercedes 300 SEL - 1967 - Papa Paulo VI
Pouco depois surgiu mais uma criação da Mercedes, desta vez um 300 SEL que podia ser configurado de forma a garantir lugar para seis ocupantes.
No que ao design diz respeito foram adoptadas as mesmas alterações presentes em modelos como o Mercedes 300d ou 600 Pullman. Falamos de portas mais longas e de uma linha de tejadilho mais alta.
Citroen SM - 1974 - Papa Paulo VI
Este modelo, de 1974, era o topo de gama da marca francesa na época e um verdadeiro pioneiro no que à tracção dianteira diz respeito.
E em 1980 foi o veículo escolhido para transportar João Paulo II.
FSC Star - 1979 - Papa João Paulo II
Este é um dos Papamóvel mais irreverentes de sempre. Trata-se de um camião FSC Star sem tejadilho que o Papa João Paulo II usou em 1979 na sua primeira viagem à Polónia, sua terra natal.
A escolha deste enorme camião foi vista por alguns como uma espécie de desafio contra os soviéticos, que nessa altura controlavam a Polónia.
Ford Transit - 1979 - Papa João Paulo II
Sabemos que a Ford Transit é um autêntico camaleão, já que se trata de um dos veículos mais versáteis algumas vez feitos. E esta derivação de uma Ford Transit para 15 pessoas transformada em Papamóvel é a prova disso mesmo.
Foi usada por João Paulo II em 1979 numa visita a Dublin, na Irlanda, sendo que em 2012 começou a ser usada pelo Museu de cêra de Dublin como autocarro turístico e para despedidas de solteiro.
Mercedes 230G - 1980 - Papa João Paulo II
O Mercedes 230G não só marca o regresso da Mercedes ao Vaticano como introduziu uma nova linguagem de design que viria a permanecer até aos dias de hoje nos Papamóvel.
Estamos obviamente a falar da secção traseira em vidro e mais elevada para segurança do Papa, ainda que a visibilidade para os que o vêm passar continua garantida.
Esta "cúpula", que pode sempre ser removida, foi construída para resistira balas e inclui um sistema especial de climatizarão que impede que os vidros fiquem embaciados.
Fiat Campagnola - 1981 - Papa Paulo VI
O Fiat Campagnola chegou ao Vaticano em 1973, mas só entrou para sempre na história em 1981, mais concretamente no dia 13 de Maio desse ano, quando transportava o Papa João Paulo II, que acabaria vítima de uma tentativa de assassinato.
João Paulo II foi atingido com dois tiros mas acabaria por sobreviver. Porém, este evento mudaria para sempre a segurança em torno do Papa e, com isso, o desenho do Papamóvel, que passou a adoptar uma espécie de "caixa de vidro" para maior protecção.
Range Rover - 1982 - Papa João Paulo II
Este Range Rover foi um dos dois veículos transformados para receber o Papa João Paulo II em 1982 na sua visita ao Reino Unido.
Contava com assentos para quatro acompanhantes do Papa, carroçaria à prova de bala e uma plataforma na traseira que podia acomodar agentes de segurança.
Actualmente está exposto no National Museum of Funeral History em Houston, no Texas.
Leyland Constructor - 1982 - Papa João Paulo II
Este verdadeiro "monstro" foi o segundo modelo que João Paulo II usou na sua viagem ao Reino Unido em 1982. Pesava 24 toneladas, tinha um motor diesel de 154 cv e era uma autêntica armadura sob rodas.
Era construído num material que fazia com pequenas balas fizessem ricochete, tinha vidros à prova de bala e um chassis à prova de bomba. Ainda assim, as suas capacidades "off-road" foram o grande motivo da sua escolha.
Actualmente este modelo está em exposição no "British Commercial Vehicle Museum", em Inglaterra, e os visitantes podem subir e sentar na cadeira do Papa.
Seat Panda - 1982 - Papa João Paulo II
João Paulo II teve alguns dos Papamóvel mais curiosos de sempre, e a verdade é que a escolha do Seat Panda para a visita a Espanha em 1982 surpreendeu.
Continua a ser um dos Papamóvel mais pequenos da história e foi escolhido precisamente por isso. Já que esta visita do Papa a Espanha ficou marcada por vários eventos em estádios de futebol e os típicos Papamóvel mais robustos não cabiam nas entradas dos estádios.
Mercedes 500 SEL - 1985 - Papa João Paulo II
A Mercedes entregou este modelo ao Vaticano de forma a substituir o 600 Pullman que tinha sido entregue em 1965.
Contava com um tejadilho em vidro bastante longo e uma plataforma eléctrica que permitia elevar o Papa.
À velocidade máxima, este Mercedes 500 SEL chegava aos 160 km/h. Porém, quando o tejadilho estava aberto, tinha um mecanismo que o limitava a apenas 32 km/h.
Mercedes 608 - 1987 - Papa João Paulo II
A carrinha Mercedes 608 foi a escolha para a visita de João Paulo II ao Chile em 1987. Esta visita ficou marcada pelo discurso de João Paulo II contra o regime do então presidente Augusto Pinochet.
Ferrari Mondial - 1988 - Papa João Paulo II
Durante a sua visita à fábrica da Ferrari em Maranello, em Itália, João Paulo II trocou o habitual Papamóvel por um Ferrari Mondial.
Mais tarde, em 2005, a Ferrari acabaria por dar um Ferrari Enzo (na época valia 1 milhão de euros) ao referido Papa, que o recusou e sugeriu que fosse vendido em leilão para que as receitas ajudassem as vítimas do tsunami de 2004 na Indonésia.
UMM - 1991 - Papa João Paulo II
O modelo português UMM foi o veículo escolhido para transportar João Paulo II na sua visita à ilha da Madeira, em 1991.
A União Metalo-Mecânica (UMM), somava grande experiência na criação de automóveis para os militares, pelo que não teve nenhuma dificuldade em abraçar este projecto especial e transformar um UMM de produção num Papamóvel.
Debaixo do capot deste modelo com a matrícula "UX-19-91" estava um bloco diesel atmosférico de 79 cv, ao invés do turbodiesel de 110 cv habitualmente usado.
Mercedes Classe S Cabrio – 1997 – Papa João Paulo II
Este Mercedes foi o terceiro modelo que a marca de Estugarda criou para o Vaticano com o famoso estilo "Landaulet". Mais uma vez o tejadilho foi alterado para ficar mais alto de forma a permitir um acesso mais fácil.
Produzia 320 cv de potência, tinha uma caixa automática de cinco velocidades e contava com dois assentos "extra" dobráveis para convidados ou assistentes do Papa.
Autocarro – 1999 – Papa João Paulo II
Em 1999, na visita à Cidade do México, João Paulo II surpreendeu tudo e todos ao surgir nas ruas da cidade a bordo de um… autocarro!
Este modelo, que contava com enormes vidros laterais para que os milhões de pessoas que saíram às ruas mexicanas pudessem ver o Papa, foi depois convertido numa espécie de "memorial móvel" assim que João Paulo II faleceu.
Mercedes ML340 – 2002 – Papa João Paulo II
Este ML340 pode ser visto como uma evolução do Mercedes 230G, modelo que inaugurou o "look" da "cúpula de vidro".
As janelas de vidro em torno da cadeira do Papa foram feitos de um tipo especial de plástico e não de vidro à prova de bala.
A estreia aconteceu em 2002, em Toronto, durante o Dia Mundial da Juventude.
Mercedes Classe G – 2007 – Bento XVI
O Vaticano encomendou à Mercedes um Papamóvel aberto para usar com o bom tempo e a fabricante de Estugarda respondeu a este pedido com um Classe G descapotável e com um pára-brisas dobrável.
Recorde-se que além deste Mercedes Classe G e do Mercedes ML340, Bento XVI chegou a receber uma Renault Kangoo eléctrica com um interior bastante personalizado.
Renault 4L – 2013 – Papa Francisco
O Papa Francisco tem surpreendido com as suas escolhas de automóveis, sobretudo por serem bastante menos convencionais do que acontecia com Bento XVI, por exemplo.
E um dos modelos que faz parte do conjunto de automóveis do Papa Francisco é um Renault 4L de 1984 com 300 mil quilómetros que ele recebeu em 2013 e que faz questão de conduzir.
Hyundai Santa Fé – 2014 – Papa Francisco
Esta escolha não deixa de ser curiosa, já que seis anos antes de Francisco surgir num Papamóvel Hyundai Santa Fé, a Hyundai UK tinha anunciado como mentira de 1 de Abril um i10 como o novo veículo destinado a "líderes religiosos", como a própria marca o definiu.
Jeepney – 2014 – Papa Francisco
Numa visita às Filipinas o Papa Francisco optou por usar um Papamóvel inspirado nos famosos Jeepneys locais.
Mas ao contrário dos modelos que servem de transporte público nas Filipinas e que contam com cores bastante vibrantes, este Papamóvel adoptou o tradicional "look" branco, apenas com o selo papal nas laterais.
Kia Sedona e Soul – 2015 – Papa Francisco
Em 2015, durante uma visita à Coreia do Sul, o Papa Francisco surpreendeu os coreanos ao usar dois modelos de uma marca da "casa", a Kia.
Primeiro, foi visto num Kia Sedona bastante modificado e depois andou a viajar pelo país num Kia Soul preto.
Jeep Wrangler – 2015 – Papa Francisco
O Jeep Wrangler é um dos modelos icónicos da história do automóvel e como não podia deixar de ser, também já esteve ao serviço do Papa. Foi a escolha do Papa Francisco para a sua viagem ao Equador em 2015 e na sua primeira viagem aos Estados Unidos.
Este modelo contava com uma protecção frontal mas tinhas as laterais abertas. Surpreendeu pela pouca protecção que oferecia e questionado acerca da preferência por automóveis abertos, Francisco admitiu a um jornal da Catalunha e a cúpula de vidro é uma
"lata de sardinha" que fica entre ele e as pessoas.
"E vamos admitir. Com a minha idade já não tenho muito a perder", afirmou Francisco, afastando uma eventual preocupação com o facto de surgir em público menos protegido.
Fiat 500L – 2015 – Papa Francisco
Acabado de aterrar em Whashington, depois de uma visita a Cuba, o Papa Francisco foi transportado até à embaixada do Vaticano em Whashington num Fiat 500L.
Pouco depois, esse mesmo Fiat acabaria por ser vendido em leilão por cerca de 75 mil euros.
Nissan LEAF – 2017 – Papa Francisco
Um dos objectivos recentes do Vaticano passa por tornar-se num dos primeiros Estados do mundo a depender apenas de energias renováveis.
E como não podia deixar de ser, esta preocupação acabou por chegar aos automóveis, com o Papa Francisco a receber um Nissan LEAF. Este modelo eléctrico, que no nosso país começa nos 22.840 euros, foi doado por um ano pela consultora alemã Wermuth Asset Management, que também chegou a sugerir um Tesla Model S. Contudo, Francisco optou pelo Nissan.
Isuzu D Max – 2017 – Papa Francisco
Este é o Papamóvel que o Papa Francisco vai usar durante a sua visita a Portugal. Tem sido uma das viaturas mais usadas por Franisco nos últimos meses, quer no Vaticano quer em viagens ao estrangeiro, como no caso das Filipinas ou do Quénia.