"Portugal à beira de ficar rico", titulava um semanário de 12 de Fevereiro… de 2011! Sim, já se referia à corrida ao lítio que, por estas semanas, sete anos depois, sofreu novo impulso, com 30 empresas a apresentarem candidaturas para prospecção e exploração do mais leve dos metais alcalinos. O lítio já é considerado como a "gasolina do futuro", por ser (para já) indispensável na construção das baterias dos automóveis eléctricos e Portugal tem-no em quantidades interessantes. Os seus preços não param de aumentar e, agora, de facto o nosso país pode ter aqui uma gigantesca fonte de receita, como mostraremos nas contas mais à frente.
Apesar de a produção de lítio portuguesa ser ainda pequena, é há alguns anos a maior à escala europeia. Contudo, a Europa tem um elevado défice desta matéria-prima, já que apenas produz 2% do lítio a nível mundial, quando consome cerca de 25%... E a tendência da procura é para aumentar, já que é o Velho Continente que está na vanguarda da electrificação do automóvel, muito à frente de Japão e Estados Unidos, só acompanhado pela China.
As jazidas até agora detectadas no nosso país, não sendo gigantescas, são numerosas e com dimensões para serem exploradas comercialmente, tendo levado o Governo a aprovar ontem uma resolução no Conselho de Ministros para orientar a exploração do lítio. É verdade que já há grandes empresas a operar entre nós, a maior das quais será a australiana Dakota Minerals, já com uma grande exploração em Cepeda (Montalegre, serra do Alvão) e pretendendo trabalhar também na zona de Barca de Alva e serra de Arga.
Mas muitos outros locais poderão ser licenciados, como se pode ver no mapa que mostramos, publicado no Diário da República de 31 de Janeiro último. As explorações deverão ser feitas em minas a céu aberto e as autarquias "afectadas" já fizeram saber que só lhes interessa a exploração do lítio se estiver associada alguma indústria de transformação que crie mais-valias e postos de trabalho nas regiões, ainda por cima quase todas do interior do País.
Daí que as principais marcas se estejam já a posicionar para garantirem o fornecimento daquela matéria-prima. A Tesla está em conversações avançadas com o grupo mineiro chileno SQM, líder mundial na extracção de lítio. A VW falhou um acordo mas confia nas suas boas ligações à China, país que controla praticamente o mercado do lítio…
O problema deste mercado é que é muito mais sensível que o do petróleo: enquanto 13 países da OPEP controlam 40% da produção mundial de petróleo, aqui apenas quatro empresas "mandam" em 90% da produção de lítio. E quatro companhias asiáticas controlam a produção de 80% das baterias de iões de lítio. Por exemplo, a Tesla trabalha com a Panasonic, a Samsung é outro gigantesco produtor…
Vejamos os números mais recentes: em 2017 houve uma procura mundial de lítio na casa das 43 mil toneladas, número que deverá subir até às 500 mil toneladas em 2025! Se o preço médio do lítio pronto a usar nas baterias rondou os 14.500 dólares (cerca de 11.800 euros) por tonelada, em Janeiro deste ano esse valor já tinha subido para os 25.000 dólares (cerca de 20.400 euros)!
Só a jazida da Dakota Minerals de Cepeda tem potencial para largos milhares de toneladas de lítio, fora as muitas outras que estão a ser já exploradas e as que irão ser licenciadas. Por aqui se vê os muitos milhões de euros que poderão entrar no nosso país. Claro que se, associada à prospecção e extracção, houver uma indústria de transformação e, porque não?, até de construção de baterias, Portugal ficaria a ganhar ainda mais e poderia ser um potencial centro fornecedor da indústria automóvel europeia que vai apostar em força na mobilidade eléctrica. A "guerra do lítio" já começou e estamos em boa posição para ganhar com ela!