Chama-se Arno e é um hidroplano, um barco capaz de voar sobre as águas. Equipado com o motor que deu a primeira vitória à Ferrari na F1, vai ser leiloado em Monte Carlo.
Em 1953, a Ferrari estava embalada com o primeiro título no Mundial de F1 conquistado por Alberto Ascari no ano anterior e dominava o campeonato com os 500 F2. Ao fim de apenas seis anos de vida, a marca de Maranello procurava dinamizar a sua imagem em Itália, mas também no estrangeiro, pelo que Enzo Ferrari aceitou o desafio de Achille Castoldi para motorizar um barco que visava a conquista de recordes de velocidade.
A ideia não era nova porque antes da II Guerra Mundial a Alfa Romeo já o tinha feito e, posteriormente, outras marcas italianas também o fizeram. Achille Castoldi era um apaixonado pela motonáutica e desenvolveu, em conjunto com o Cantiere Timossi di Azzano (região do lago Como), um hidroplano – um barco capaz de planar sobre a água –, mantendo apenas a hélice e o leme em contacto com ela. Era necessário um motor potente, pelo que a Ferrari desenvolveu um V12 de 4,5 litros, derivado do bloco que, em 1951, equipava o 375 F1 com que Froilán Gonzalez garantiu em Silvestone a primeira vitória da Ferrari na F1 (imagem ao lado).
Para além do motor, a Ferrari disponibilizou o seu mecânico chefe para a estreia do Arno XI de Achille Castoldi, que acabou por desistir devido a problemas com a fixação do volante. No entanto, o Arno XI acabou por conhecer o sucesso e conquistar o recorde de velocidade na categoria dos 800 km, ao atingir a velocidade de 243 km/h no Lago Sarnico.
O pai do projecto retirou-se da competição em 1954, numa altura em que alguns dos seus amigos foram vítimas de acidentes, e o Arno XI caiu no esquecimento. Com alguma surpresa, reapareceu em 1960 pelas mãos de Nando Dell’ Orto, um engenheiro que reformulou o casco em madeira, reforçado com alumínio, que passou a contar com uma tomada de ar frontal que parece uma boca de tubarão. Trocou o habitual número quatro – até aí sempre utilizado em competição – pelo número 50 e paralelamente à linha de cintura surgiram de cada lado os imponentes tubos de escape do motor V12, que foi equipado com dois compressores volumétricos para aumentar a sua potência para 502 cv e rivalizar com o motor 450 S de 520 cv que a Maserati disponibilizou na época. O Arno XI passou para a classe dos 900 kg e garantiu o segundo lugar no Campeonato do Mundo de 1965.
Hoje é uma peça de colecção e chegou a marcar presença no museu Enzo Ferrari em Modena.