Está na moda comprar um automóvel 100% eléctrico no nosso país, à semelhança do que está a acontecer na Europa. Exemplo disso foi o crescimento de 95% nas vendas de veículos com esta motorização em 2018 face ao ano anterior. Já este ano, os dados disponíveis no primeiro trimestre revelam uma subida de 118% face ao mesmo período de 2018.
As vantagens fiscais e económicas que a compra tem para o automobilista, assim como o contributo decisivo na protecção ambiental, principalmente em meio urbano, têm levado cada mais particulares e empresas a optarem por este tipo de veículos.
Face à oferta cada vez mais alargada das principais marcas automóveis, o automobilista está "obrigado" a pesar os prós e os contras antes de tomar uma decisão.
Se a condução destes modelos não é muito diferente de um automóvel convencional, há pormenores que é necessário ter em atenção.
Controlar a autonomia disponível da viatura para uma viagem, e saber onde as baterias podem ser carregadas ganham, aqui, uma importância fundamental.
O diário ‘El País’ avançou com os principais pontos a que um automobilista deve estar atento antes de optar pela compra de um automóvel totalmente eléctrico.
O primeiro ponto a reter passa pela utilização que será feita da viatura. Se as vantagens em condução urbana são indiscutíveis, com a autonomia das baterias a suportarem facilmente uma utilização diária em percursos não demasiado longos, fora da cidade tudo fica bem mais condicionado.
O condutor quase que é obrigado a fazer um plano de "guerra" para saber quais os postos de abastecimento onde pode carregar a bateria do veículo, como pode ver-se no mapa da Mobi.E e o tempo que irá demorar em cada carregamento.
Já há vários modelos que "facilitam" essa questão ao oferecerem maior autonomia, mas muitos deles não estão ainda ao alcance das carteiras.
Além disso, os dados de autonomia e tempo de carregamento da bateria avançados pelas marcas automóveis podem não coincidir com a realidade, como tem sido criticado nos anos mais recentes com os carros equipados com motores de combustão.
É necessário recordar que esses valores são obtidos em circuito em condições técnicas muito especiais.
Só na estrada, com uma condução adaptada às necessidades, é que o condutor consegue obter dados fiáveis de consumo, neste caso, de electricidade.
Se essas "desvantagens" podem colocar reticências ao comprador de um ‘100% eléctrico’, há uma série de pontos positivos que podem pesar ultrapassá-las.
Alguns dos principais centros urbanos da Europa ocidental estão a colocar restrições à circulação, seja através de portagens à entrada da cidade ou pelo aumento dos preços de parqueamento, medidas que têm salvaguardado as viaturas eléctricas.
No nosso país, há municípios que têm estacionamento gratuito – Beja, Funchal, Guimarães, Loures, Mirandela, Oeiras, Oliveira de Azeméis, Ribeira Brava, Setúbal e Vila Real – ou oferecem descontos – Lisboa e Porto – aos veículos 100% eléctricos.
Todavia, os municípios que aderiram a esta iniciativa são ainda em número muito reduzido, como é bom de ver.
É um dos principais aliciantes na tomada de decisão: poder carregar a bateria em casa ou no emprego, com óbvias vantagens em comodidade e poupança.
Efectivamente, não se pode "confiar" a 100% na disponibilidade dos postos de rua quando realmente são necessários, por estarem ocupados, avariados ou localizados completamente fora da rota de viagem.
Mesmo que esteja obrigado a carregar a bateria num posto de rua, o condutor enfrenta novo desafio à paciência: o tempo de carregamento é bem mais alargado do que encher um depósito de gasóleo ou de gasolina.
Uma carga pode demorar menos de uma hora, para 80% da bateria, até 12 horas para chegar à sua plenitude, dependendo da velocidade de carregamento do posto.
A poupança num carro 100% eléctrico é feita nos impostos e no combustível, já que o diferencial do preço da electricidade em relação ao da gasolina, gasóleo e GPL é enorme.
O preço do carro em si, no entanto, é superior a um automóvel convencional com as mesmas valências, mesmo que esses valores estejam a baixar de forma assinalável. E os subsídios estatais para a aquisição podem ser essenciais para a tomada da decisão final.
Para os particulares, o cheque estatal era de 3 mil euros enquanto para as empresas está fixado nos 2.250 euros. Para beneficiar destes apoios, a viatura a adquirir tem de ser inferior a 62.500 euros.
Em contrapartida, os beneficiados pelo incentivo ficam obrigados a manter os veículos por 24 meses, e impedidos de exportá-los.
Os incentivos serão atribuídos por ordem de candidatura até que o valor (2,65 milhões de euros) destinado ao apoio terminar.
Foi exactamente o que sucedeu, com o esgotamento do incentivo estatal para a aquisição destes veículos.
Resultado: as unidades 100% eléctricas vendidas em Abril no nosso país (437) foi menos de metade das registadas em Março (943) e ficou mesmo 4,6% abaixo das vendas do mês homólogo do ano passado.