Ter um Ferrari LaFerrari a leilão não é muito vulgar mas o que dizer quando se trata de uma "mula"?
A RM Sotheby’s leva agora a leilão este protótipo que foi alvo de intensos testes até o super desportivo de produção chegar à estrada.
Sim, o Ferrari LaFerrari em questão é feio quanto baste e, pior, nem sequer está legalmente homologado para circular ou entrar em competição.
E, no entanto, tem todas as características que fazem deste super desportivo um dos modelos mais raros e cobiçados da insígnia do cavallino rampante.
Uma "mula", no jargão automóvel, é um protótipo usado para desenvolver um futuro carro de produção.
Neste caso específico, a Ferrari trabalhava, desde 2011, num herdeiro digno de super desportivos de excepção como foram os 288 GTO, F40, F50 e Enzo.
O desenvolvimento foi complexo ou não fosse este o primeiro exemplo de um híbrido que os engenheiros da marca italiana estavam a trabalhar.
Nada melhor, por isso, do que pegar num Ferrari 458 Italia e alterá-lo de forma profunda para ensaiar vários componentes, para além do sistema motriz.
O bloco V12 de 6,3 litros com 800 cv e 700 Nm, alinhado com um motor eléctrico de 120 kW (163 cv) e 200 Nm, também foi especialmente cuidado.
Recorde-se que a potência e binário combinados chegam aos 963 cv e 900 Nm para uma explosão de energia até aos 350 km/hora.
Como o chassis do 458 Italia era em alumínio quando o do LaFerrari é em carbono, foi preciso modificá-lo para que os motores térmico e eléctrico, assim como as baterias, pudessem caber nas suas entranhas.
Rudemente esculpido, não importava que, ao abrir o capô, tudo estivesse montado de forma grosseira e com um ar provisório.
Além disso, a chapa foi retalhada com cortes profundos para criar escotilhas que facilitassem o acesso aos vários componentes mecânicos.
A ‘mula’ em questão, testada entre Maio de 2011 e Dezembro de 2012, cumpriu mais de 3.320 quilómetros no circuito privado da Ferrari.
Claro que ao lado deste protótipo, havia outras cópias em diferentes estádios de desenvolvimento para verificar elementos específicos.
Este destinava-se a testar o sistema híbrido mas também verificar o funcionamento dos travões, direcção, suspensão e pneus.
A seguir a este exemplar, foram construídos variantes mais evoluídas e mais próximas do LaFerrari que todos conhecemos.
Baptizados como Second Family Mulotype, antecederam os conhecidos "pré-série", estes já com o visual definitivo do super desportivo.
Fabricado entre 2013 e 2016, do LaFerrari só foram comercializados 499 exemplares com capota e 210 descapotáveis na versão Aperta.
Todavia, e de forma original, a Ferrari decidiu vender esta ‘mula’ para ganhar espaço nas suas oficinas quando o "verdadeiro" ainda estava no mercado.
Certo é que, passados oito anos, o coleccionador anónimo que o comprou à época decidiu livrar-se do carro.
As limitações eram imensas devido à falta de homologação para ser conduzido em estrada ou em competição.
Contudo, tem todos os atributos que fazem dele uma peça rara, ao serem incluídos no leilão os painéis exteriores de camuflagem.
E o certificado Ferrari Classiche que o acompanha atesta a sua autenticidade e valor histórico.
A 14 de Maio, no Mónaco, a RM Sotheby’s leva-o a leilão com uma estimativa de preço entre os 1,4 e 1,8 milhões de euros.
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