Os construtores automóveis têm apostado, nos anos mais recentes, no desenvolvimento de sistemas de infoentretenimento evoluídos para melhor auxiliarem o automobilista na condução.
Esse objectivo, no entanto, parece estar a ter efeitos contrários, podendo mesmo contribuir para uma maior probabilidade de acidente.
É o que se pode concluir do estudo realizado no Reino Unido pela "What Car?", a 20 sistemas de infoentretenimento e comandos de ar condicionado, para saber quão perturbadores poderão eles ser na condução.
Dois técnicos da "What Car?", já familiarizados com os sistemas que iriam testar, executaram seis tarefas normalmente feitas pelo automobilista quando conduz.
– subir em 2º C a temperatura do sistema de ar condicionado;
– aumentar a velocidade do ventilador em dois níveis;
– programar uma rota de 32 quilómetros no sistema de navegação e, com o ecrã de infoentretenimento na página principal, seleccionar o mapa e reduzir o zoom para ver todo o percurso;
– cancelar a orientação da rota;
– com o rádio sintonizado na Virgin DAB e, com o ecrã de infoentretenimento na página principal, escolher a lista principal das estações e mudar para a BBC Radio 4
– usar o botão de controlo de voz no volante (se houver) e "pedir" para encontrar a estação de serviço mais próxima.
As seis tarefas foram classificadas entre zero (mais difícil) e cinco (mais fácil), numa pontuação máxima de 30, nos sistemas de infoentretenimento e de ar condicionado instalados nos modelos abaixo assinalados.
01 – BMW Série 3 com Live Cockpit Professional (28/30)
02 – Mercedes CLA com ecrã táctil de 10,25 polegadas (27/30)
03 – Porsche Panamera e-Hybrid com Connect Plus e Porsche Communication Management (27/30)
04 – Audi Q3 Sportback com Virtual Cockpit Plus (26/30)
05 – Mazda 3 com Mazda Connect e ecrã de 8,8 polegadas e (25/30)
06 – Volkswagen Passat GTE com Composition Media System de 8,8 polegadas (24/30)
07 – Ford Fiesta com sistema de navegação Sync 3 e FordPass Connect (23/30)
08 – Hyundai Ioniq com conectividade Bluelink e ecrã de 10,25 polegadas (22/30)
09 – Opel/Vauxhall Corsa com Multimedia Navi Pro de dez polegadas (22/30)
10 – Skoda Kamiq com sistemas Amundsen Sat-Nav e de controlo de voz, e ecrã táctil de 9,2 polegadas (21/30)
11 – Jaguar XE com sistema Touch Pro Duo de dez polegadas (21/30)
12 – Volvo S60 com Sensus (20/30)
13 – Toyota Corolla com sistema multimédia Touch 2, Apple CarPlay e Android Auto (20/30)
14 – Nissan Juke com Nissan Connect (19/30)
15 – Honda CR-V com Honda Connect, navegação Garmin e ecrã de sete polegadas (18/30)
16 – Lexus RX com ecrã multimédia de 12,3 polegadas (18/30)
17 – Peugeot 508 SW com Connected 3D Navigation de dez polegadas e reconhecimento de voz (17/30)
18 – Skoda Citigo-e iV com ecrã a cores e suporte para telemóvel (16/30)
19 – Fiat 500X com Uconnect Live e ecrã táctil de sete polegadas (14/30)
20 – MG ZS EV com ecrã táctil de oito polegadas (12/30)
O "vencedor" foi o BMW Série 3, logo seguido, ex aequo, pelo Mercedes CLA e pelo Porsche Panamera e-Hybrid.
As conclusões, no entanto, são estarrecedoras: pode levar mais do dobro do tempo a ajustar o aquecimento do habitáculo no ecrã táctil do que num botão ou num interruptor físico, dependendo dos sistemas testados.
Fazer o zoom num mapa de navegação pode demorar mais de quatro vezes o tempo necessário para a tarefa, e "rolar" a lista de estações de rádio até se encontrar a pretendida pode demorar até oito vezes.
Os modelos automóveis pior classificados têm ecrãs telas ou sistemas pouco responsivos, dificultando a sua navegação ou exigindo demasiados passos para que as tarefas sejam executadas.
Há a ressalva promovida pelas próprias marcas, no entanto, de que estes sistemas só devem ser utilizados com o automóvel parado ou, quanto muito, em marcha lenta
Não deixa de ser impressionante, no entanto, a maneira como o seu uso contribui para a distracção do automobilista durante a condução.
Dados da Divisão de Transportes britânica revelam, nos anos mais recentes, um aumento sustentado no número de colisões devido a distracções do condutor.
Em 2018, esses erros foram responsáveis por 15% dos acidentes registados nas estradas do Reino Unido, quando em 2016 tinham sido 13%, e 14% em 2017.
De assinalar é o facto de 25% das colisões com vítimas estarem relacionadas com algum tipo de distracção.
Face a estes números, tem sido cada vez mais questionada a segurança no uso dos ecrãs tácteis.
Com utilizações em tudo semelhante aos telemóveis, nomeadamente, nos riscos a eles associados quando se conduz, têm a vantagem de o seu uso em condução não ser penalizado pelas autoridades policiais.