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Jean Todt, o presidente da Federação Internacional do Automóvel (FIA), está longe de ter um passado "limpo" e não estamos a falar de negociatas mais ou menos recentes. Em 1975, Monsieur Jean-Todt era apenas "Jean-Jean" e participou no Rali Abidjan-Nice, uma "prova pirata", pelo que hoje seria certamente penalizado pela entidade federativa que dirige.
Poucos se recordam do Rali Abidjan-Nice, uma prova que está na origem do Dakar, tanto mais que se conta que a grande aventura dos tempos modernos foi idealizada por Thierry Sabine, quando esteve três dias perdido no deserto do Ténèré, numa edição da prova organizado por Jean-Claude Bertand, onde quase perdeu a vida, sendo resgatado em elevado estado de desidratação.
A partida para a primeira edição do Rali Abidjan-Nice teve lugar no dia seguinte ao Natal de 1975, sem a bênção da federação do desporto automóvel (FIA) nem da de motociclismo (FIM), ou sequer o acordo das autoridades dos países que foram atravessados. Foi um verdadeiro rali pirata, disputado à margem das leis desportivas.
Na fronteira entre o Níger e a Argélia o rali poderia ter acabado mal quando o exército começou por recusar a passagem da caravana de Kalachnikov em punho. Um dos retidos foi o antigo tenor de ópera alemão Wolfgang Mauch, proprietário da marca de vestuário Lothars e irmão de um manequim e um dos melhores alpinistas mundiais, que tinha o mesmo nome. Era o líder da classificação com o Land Rover que partilhava com um navegador de pequena estatura, que todos conheciam por Jean-Jean.
Ultrapassado o diferendo fronteiriço (ninguém diz quanto terá sido pago aos militares) o Land Rover atrasou-se com problemas mecânicos e Jean-Jean, já um hábil estratega, tentou apresentar uma reclamação escrita para anular a etapa do dia.
Jean-Claude Bertrand, o organizador da prova, que criava os regulamentos de acordo com os problemas com que se ia debatendo, limitou-se a rasgar o papel à frente de Jean Todt, dizendo-lhe "Deixa lá isso, Jean-Jean...". Hoje em dia, uma situação semelhante seria impensável: Jean-Jean passou a ser Monsieur Jean Todt, le président.
Antes disso, afrontou a FIA do presidente Jean-Marie Ballestre como director desportivo da Peugeot e foi uma dor de cabeça para o presidente Max Mosley, enquanto responsável da Scuderia Ferrari. Curiosamente, sucedeu a Max Mosley, depois de esmagar o seu antigo protegido Ari Vatanen (dos tempos da Peugeot) no processo eleitoral que o colocou à frente da FIA. Como a memória é curta, Jean Todt não quererá recordar decerto a sua presença no longínquo Abidjan-Nice de 1975.
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