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A indústria automóvel está a recomeçar!

A indústria automóvel está a recomeçar!

19:00 - 20-12-2016
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Há cerca de 120 anos a indústria automóvel dava os seus primeiros passos com um interessante e aceso debate acerca do tipo de propulsão a adoptar, quando o vapor era ainda uma opção, a electricidade já era alternativa, mas acabaria por ser o já então poderoso "lobby" do petróleo a impor o motor a combustão. Assistiu-se, então, a uma fase frenética, de multiplicação de marcas, das quais só algumas sobreviveram ao longo do Séc. XX.

Este início do Séc. XXI parece, com as devidas distâncias, uma réplica daqueles tempos agitados em que se definiu a indústria automóvel das (muitas) décadas seguintes. Verdade que nem tudo se passa pela mesma ordem. Começámos com o desaparecimento de alguns construtores de renome (Rover, Saab) ou com a salvação "in extremis" de outros, absorvidos por grupos alemães (Mini, Bentley, Lamborghini, Rolls-Royce) ou refinanciados por capitais de inesperadas proveniências que nos levaram a desconfiar, mas que se revelaram providenciais: veja-se o que os indianos da Tata fizeram pela Jaguar Land Rover e os chineses da Geely pela Volvo.

Entretanto, muito se tem discutido sobre o futuro da mobilidade, pacífico que é que os combustíveis fósseis têm os dias contados… só não se sabe quantos. Automóveis puramente eléctricos, híbridos ou a hidrogénio estão agora no centro da discussão, debatendo argumentos entre os resultados ideais dos "emissões zero" e o realismo das autonomias e custos mais contidos dos híbridos.

Faltava a agitação do aparecimento de novos construtores, algo a que a indústria automóvel não assiste, com pontuais excepções, há décadas. Começou com a Tesla, com Elon Musk a desafiar abertamente os grandes construtores com a sua visão de automóveis eléctricos de altas "performances" e autonomias razoavelmente longas. O entusiasmo com que foi recebido no mercado não só obrigou os construtores tradicionais a acelerar os programas de "electrificação" como fez despertar outros interesses…

Nomeadamente da grande China que pretende tornar-se no maior mercado mundial de veículos eléctricos e híbridos e onde nasceram fortunas instantâneas em negócios "online". Olhando para o caso da Tesla, começaram a nascer uma série de "start up", aparentemente com sólidos apoios financeiros e com a finalidade única de baterem a empresa norte-americana, tanto na mobilidade eléctrica como na condução autónoma. Característica comum às quatro empresas mais badaladas: os capitais são chineses, mas todas se instalaram na Califórnia (três em Silicon Valley) para desenvolverem as suas tecnologias!

Ainda há pouco tempo a NextEV – que até tem equipa própria na Fórmula E – apresentou o primeiro carro, um superdesportivo de 1360 cv, o Nio ep9. A ex-Atieva, entretanto rebaptizada Lucid Motors, já mostrou o Air, berlina luxuosa de 1000 cv que construirá a partir de 2018, no Arizona. Nos primeiros dias do ano, em Las Vegas, a Faraday Future irá apresentar o seu primeiro modelo de produção, um monovolume que já se exibiu num vídeo a bater Ferrari, Porsche e Bentley Bentayga em aceleração… E a LeEco também já apresentou um protótipo de uma berlina que define, não como um automóvel eléctrico, mas como um "ecossistema para a nova era da mobilidade conectada". Seja lá isso o que for…

Tudo isto soa ainda muito a "castelos no ar" e sabe-se como estes investidores de fortuna feita em negócios "online" tão depressa aparecem cheios de pujança como desaparecem misteriosamente… Mas se juntarmos os muitos milhões já investidos nestas empresas, à forma como atraíram grandes técnicos e dirigentes de outras companhias – na Lucid está um ex-vice-presidente da Tesla, a Faraday atraiu responsáveis da Tesla e da Ferrari, o "braço" americano da NextEV é liderado por uma ex-executiva da Cisco… –, a maneira como empresas como a Google e a Apple (que recrutou o engenheiro criador do Porsche que venceu Le Mans!) se estão a colocar no futuro do mercado automóvel e a reacção rápida das marcas tradicionais, anunciando gamas completas eléctricas para dentro de três-quatro anos, percebe-se a efervescência em que vive a indústria automóvel!

E não deixa de ser fascinante perceber que estamos, neste preciso momento, a viver os anos decisivos que irão moldar o futuro dessa indústria e aquilo que será o automóvel nos tempos mais próximos. Aos actores que há tantos anos dominam a cena, novos se irão juntar, aproveitando a revolução tecnológica para colocar tudo em causa e, assim, conquistarem o seu espaço. Os que já cá estão partem em vantagem. Mas se a inércia dos anos não lhes permitir uma reacção rápida arriscam-se, mais cedo ou mais tarde, a desaparecer. Basta revisitar a história do automóvel e ver construtores do início do Séc. XX que nunca morreriam e que, hoje, só se encontram nos livros…
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