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Nos anos cinquenta do século passado faziam-se ensaios futuristas sobre os carros do ano 2000 em que, obviamente, o asfalto já deixara de ser o limite, podendo voar para fugirem aos engarrafamentos… O choque cruel com a realidade ensinou-nos a ser mais precavidos nas previsões, mas continuamos incorrigíveis quando se trata de nos deixarmos encantar com as tecnologias futuras, mesmo se de forma mais "controlada".
Segundo prevíamos há uma dúzia de anos, estaríamos agora já com seis de comercialização de carros a hidrogénio… E o mesmo se passa com o entusiasmo actual acerca dos veículos autónomos, aqueles que se conduzem a si próprios e que, até ao final da década, estarão à nossa disposição. Dizem-nos… Vejamos, então.
Para começar, esclareçamos já que aquela imagem do automóveis autónomos nos levarem onde queremos enquanto vamos refastelados a ler o jornal de costas viradas para a estrada está quase ao nível dos carros-voadores dos anos 50… Os carros autónomos de que falamos terão sempre alguém no lugar do condutor que terá de estar preparado para, a qualquer momento, assumir o controlo das operações. Como o piloto automático nos aviões não dispensa os pilotos…
Agora as boas notícias. A tecnologia para a construção de veículos autónomos já está praticamente toda inventada, testada e, muita dela, até disponível em muitos modelos à venda. Há mais de cinco anos que, numa pista de testes da Bosch, pude andar num carro que fazia tudo sozinho, respeitando sinais de trânsito, semáforos e até prioridades de entrada em rotundas. E, mediante autorização especial, até fez um pequeno circuito em estradas e autoestradas públicas, pelo meio do trânsito normal.
Ou seja, mais coisa menos coisa, se fosse preciso fazer um automóvel autónomo, rapidamente estaria pronto a ser lançado. Há, aliás, sistemas que as próprias marcas limitam para que não tornem o automóvel demasiado autónomo… Pelo simples facto de não haver ainda legislação que o autorize. E esta é a primeira grande barreira para o avanço dos automóveis autónomos e que demorará, certamente, longos anos a ser ultrapassada.
Porque não se trata de uma mudança do dia para a noite, estamos a falar de algo que se arrastará por muitas décadas, do convívio entre veículos com capacidade autónoma e os, digamos, "normais", comandados por seres humanos. E nesta coabitação há um foco permanente de conflito: em caso de acidente, quem se responsabiliza do lado do veículo autónomo? Porque se for o seu condutor, proprietário, ocupante ou o que lhe queiram chamar, então o veículo não é verdadeiramente autónomo…
Mas além deste imbróglio jurídico, deveremos fazer outras perguntas. A quem poderão interessar os automóveis autónomos? Quem estará disposto a pagar muito mais para ter um carro que não tem de se guiar? As pessoas idosas em risco de não conseguirem renovar a carta, por exemplo, podendo assim manter a sua mobilidade. Mas esse é um nicho demasiado pequeno… As pessoas que não gostam de guiar e só querem um carro para ir de A até B? Mas essas gastam o menos possível num automóvel e fogem de tecnologias complexas como o diabo da cruz!
Não deixam de ser fascinantes os avanços já feitos no campo da condução autónoma! E não há dúvida de que será uma tecnologia que acabará por chegar aos nossos automóveis. Mas, com tudo o que há para resolver ainda, será mais tarde do que cedo e o final da década está já demasiado próximo para ser agitado como uma meta realista…
PS – O polémico Chris Bangle que, há quase duas décadas, ditou a mudança da estética da BMW, avisou que a condução autónoma poderá significar, em última análise, a implosão de um dos mais importantes argumentos da indústria automóvel, a paixão! Quando nos sentarmos num carro e ele nos levar onde quisermos sem que tenhamos de fazer seja o que for, qual a diferença entre um automóvel… e um elevador?!
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