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 Coragem ou irracionalidade

Coragem ou irracionalidade

16:58 - 13-06-2016
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Confesso que aguardo com expectativa o resultado final das anunciadas obras que o actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, tenciona levar a cabo numa das mais importantes artérias da capital, a Segunda Circular.

E, tal como eu, que sou utilizador frequente das três avenidas que formam a Segunda Circular (Eusébio da Silva Ferreira, Norton de Matos e Marechal Craveiro Lopes), tenho a certeza que existem milhares de outros automobilistas igualmente ansiosos para ver o resultado final das obras. Em particular, o que elas vão alterar na sua rotina diária.

Considerada como uma das vias em território nacional com maior densidade de tráfego, sobretudo em horas de ponta, a pergunta que se coloca é a de saber por onde vão circular os veículos que diariamente ali passam, quando o objectivo da Câmara é o de reduzir a largura e o número de faixas de rodagem, a sua fluidez, através da semaforização e a diminuição da velocidade de circulação, que passará de 80km/h para 60km/h.

Transformar uma via rápida com as características que lhe conhecemos numa avenida urbana, como quer Fernando Medina, não se antevê tarefa fácil, nem económica para os bolsos dos contribuintes.

Dez milhões de euros, sem falar nas eventuais derrapagens – uma boa parte proveniente das taxas e impostos de circulação que os automobilistas deixam no município –, é quanto Medina quer gastar numa obra que lhes vai certamente dificultar a vida.

Em todas as cidades europeias existem ‘segundas circulares’ como a nossa. Paris, caso mais flagrante, também tem o seu Periphérique muito congestionado nas horas de ponta. Mas não acredito que a alguém passe pela cabeça transformá-lo numa extensa avenida urbana com faixa central arbórea e pistas para ciclistas.

Descongestionar a Segunda Circular dificultando o acesso de veículos e desviando-os sabe lá para onde, é pois, como diz o ex-vereador da CML, Fernando Nunes da Silva, uma operação de cosmética para disfarçar outros problemas. Na sua opinião, antes de se mexer na Segunda Circular haveria que concluir um conjunto de outras intervenções na rede da cidade de Lisboa, sob o risco de vermos o caos aumentar.

A Segunda Circular precisa de manutenção e de correcções que têm sido sistematicamente esquecidas ao longo dos anos. O piso está degradado, a sinalização, de uma forma geral, está desactualizada e mal tratada, a iluminação é deficiente e liga e desliga consoante os dias de festa, e o eixo central está abandonado, cheio de ervas e outra vegetação daninha, que cresce sem controlo. A circulação de veículos pesados, por exemplo, devia estar mais condicionada e utilização da faixa central e da esquerda a camiões totalmente proibida pelo perigo que representa. São soluções razoáveis e facilmente implementáveis.

No entanto, em tempo de austeridades, o edil optou pela via mais duvidosa: gasta-se o que se tem e o que não tem. A sua atitude pode ser vista como um acto de coragem ou de pura irracionalidade. O tempo o dirá. Infelizmente, a história da cidade está cheia de péssimos exemplos outros ‘medinas’!
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